O Cardeal D. Américo Aguiar considera que “não podemos permitir” que a guerra continue. Na homilia da eucaristia deste domingo, que assinalou a sua entrada como bispo de Setúbal, o prelado mostrou um conjunto de balas vindas da Ucrânia, que lhe foram oferecidas na sua visita ao país. “Continuamos a matar pessoas na Ucrânia, a matar pessoas na terra de Jesus. Não estamos contra ninguém, nem contra palestinianos, nem contra israelitas. Queremos a paz”, sublinhou, dizendo ainda que “quem sofre” com os conflitos armados “são sempre os mesmos: as crianças, as famílias os idosos e os pobres”.
D. Américo Aguiar chega à diocese de Setúbal “sem programa, nem decisões”. “Trago o coração totalmente disponível para irmos até ao fim do mundo, se for preciso”, garantiu. “Vamos juntos para salvar um que seja. Se chegar ao fim da minha presença em Setúbal, daqui a 30 anos, e tiver salvo uma pessoa, está resolvido.”
O heroísmo dos padres e “os mesmos problemas” por resolver
Logo no início da homilia, e diante de uma Sé repleta, D. Américo Aguiar emocionou-se, quando falou sobre os sacerdotes. “Pode haver um ou outro que, de vez em quando, não nos dignifica, nem representa, mas a esmagadora maioria são heróis, são benfeitores e, por isso, queria homenageá-los”, disse, com a voz tremula, depois de ter feito uma distinção semelhante, na última quinta-feira, dia 26, aquando da tomada de posse.
Com algumas dezenas de fiéis a assistir à celebração, através de ecrãs, no exterior, o Cardeal D. Américo Aguiar recordou D. Manuel Martins, primeiro bispo de Setúbal, “que tanto se deu, se entregou”, e afirmou que “48 anos depois, continuamos a ter os mesmos problemas”. “É culpa do governo? Não é. É nossa, é de todos. Significa que não fomos capazes de fazer cada um aquilo que verdadeiramente lhe competia”, disse, de forma perentória.
No final da missa, em declarações aos jornalistas, o Cardeal adiantou que a Comissão Diocesana de Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis de Setúbal, com quem se reuniu pela primeira vez este sábado, não está a “trabalhar, nem a avaliar nenhuma situação” de abuso. E acrescentou: “É preciso criar condições de confiança, de segurança mútua na sociedade, para que as pessoas possam dar o passo de abrir o seu coração, e depois também sermos capazes de o fazer transversalmente na sociedade”.
Na celebração que marcou a entrada do cardeal D. Américo Aguiar como bispo de Setúbal, estiveram quase duas dezenas de bispos, entre os quais D. Rui Valério, Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, Patriarca Emérito, e D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e bispo de Leiria-Fátima. Quem também marcou presença foi o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Catarina Mendes, ministra adjunta e dos assuntos parlamentares, e João Costa, ministro da educação, além da Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, e diversos autarcas.