A polícia britânica está a ser criticada por não ter permitido que um padre administrasse a unção dos doentes ao deputado britânico David Amess, que foi assassinado na semana passada, num ato de terrorismo.
David Amess, que era católico devoto, estava a receber membros da comunidade do seu círculo eleitoral em audiência, no salão de uma igreja metodista, em Essex, quando foi esfaqueado por um terrorista que esperou na fila para o ver.
Ao ouvir a notícia o padre Jeffrey Woolnough, de uma igreja católica próxima, que era amigo de Amess e sabia que ele era católico praticante, acorreu ao local com o material necessário para administrar a unção dos doentes à vítima.
Contudo, o padre Jeffrey foi barrado à entrada e mesmo quando o seu pedido foi comunicado aos superiores hierárquicos da polícia a decisão de não o deixar entrar manteve-se, “para preservar a integridade da cena do crime”, explicou mais tarde a força policial.
Impedido de entrar, o sacerdote ficou junto ao perímetro de segurança a rezar o terço.
Num vídeo publicado na sua conta de Twitter, na segunda-feira, e entretanto apagado, o padre diz que respeita a decisão das autoridades e acrescenta que ficou admirado pela situação se ter tornado pública, uma vez que não foi ele que falou com a imprensa.
Mas perante a situação as críticas à atuação da polícia sucedem-se. Escrevendo no site “Spiked” o jornalista e comentador Brendan O’Neill diz que a decisão da polícia revela a “desumanidade da burocracia”.
O’Neill, que não é religioso, lamenta a “chocante falta de literacia religiosa, ou apenas sensibilidade cultural” e diz que neste caso “as regras foram mais importantes que as necessidades espirituais de um moribundo. A preservação de cada átomo de prova criminal é mais importante, aparentemente, que cuidar da alma de um homem nos últimos momentos da sua vida na Terra”, acrescenta.
A unção dos doentes, ainda conhecido pelo seu antigo nome extrema unção, é um dos sete sacramentos da Igreja Católica. Para além de dar força espiritual para combater a doença e ajudar na recuperação de uma doença, o sacramento tem ainda o efeito de perdoar os pecados do doente, sendo necessária a confissão do mesmo, caso esteja capaz disso.
No mesmo artigo, O’Neill critica o facto de a decisão ter sido tomada pela mesma força policial que faz gala de ser inclusiva e sensível às minorias. “A polícia britânica moderna está obcecada com o politicamente correto. Proclama a diversidade cultural e a inclusão LGBT de manhã à noite. Está super preocupada em usar os pronomes certos e por vezes tem palavras duras para com aqueles que não o fazem. E, porém, pareceu, neste caso incapaz de compreender a importância cultural e espiritual de um antigo ritual que os católicos praticam há séculos. O facto de os polícias conhecerem as palavras ‘ze’ e ‘zir’ mas não perceberem a importância da extrema unção para uma significativa minoria da população britânica diz muito sobre a nossa sociedade”, escreve.
“Quem diz que isto ainda é um país cristão?”
O autor e comentador Peter Hitchens também criticou a decisão da polícia.
Numa mensagem publicada no Twitter, Hitchens, que é irmão do famoso ateu Christopher Hitchens, mas ao contrário deste é crente e defensor da religião, pergunta se ainda faz sentido apelidar o Reino Unido de país cristão.
“Quem diz que isto ainda é um país cristão? Polícia ‘impediu padre de administrar extrema unção a Sir David Amess”, diz Hitchens, que inclui um ligação para um artigo sobre o assunto.
E a contestação ultrapassou as fronteiras do Reino Unido, com Michael Kelly, editor de um jornal católico na Irlanda, a dizer que se a notícia for verdade “trata-se de uma decisão muito grave que exige uma explicação das autoridades”.