Ainda nem sequer entrou em vigor o cabaz de produtos essenciais com IVA a 0% e já há queixas dos produtores de leite. Dizem que os industriais do setor estão a aproveitar o momento para lhes pagar menos 5 a 8 cêntimos por cada litro de leite.
A denúncia foi feita esta quinta-feira pelo secretário-geral da Associação de Produtores de Leite de Portugal (APROLEP).
Em declarações à Renascença, Carlos Neves explica que a má notícia chegou logo no dia a seguir ao acordo celebrado pelo Governo com produtores e distribuidores do detor da alimentação.
"Ainda não tinham passado 24 horas desde que o Governo anunciou o IVA Zeo e um apoio aos agricultores e as primeiras indústrias começaram a avisar que iam baixar o preço ao agricultor, no caso de 8 cêntimos", explica o representante dos produtores de leite.
"Pelo costume, as outras virão atrás. Parece-nos evidentemque há aqui um aproveitamento da oportunidade para baixar o preço ao produtor para margens que, para nós, são muito difíceis de aguentar. Se não é, parece mesmo."
A redução anunciada do preço a pagar pela indústria ao produtor de leite é insustentável, explica Carlos Neves. É que, fazendo as contas, o apoio de 140 milhões, destinados pelo Governo aos agricultores, representa uma ajuda de apenas 1 cêntimo por cada litro.
"Este 140 milhões são para dividir por toda a agricultura. Se nós, numa visão otimista, calculamos que possa vir 10% para a produção de leite e dividirmos esses 14 milhões, ou que possa ser um pouco mais, por 1 milhão e 900 mil toneladas... Se nós dividirmos esse dinheiro, estamos a falar de um cêntimo por litro de leite que vamos receber ajuda."
Por este caminho, avisa a APROLEP, haverá vacarias a fechar, porque as rações nunca estiveram tão caras e a produção de leite passa a dar prejuízo.
"A ração, que é o principal custo, representa 60% da despesa de uma vacaria e está nos valores mais altos de sempre. Se nos baixam a produção (preço), deixarmos de ter dinheiro suficiente para comprar comida para os animais e vamos ter que abater animais, reduzir a produção e eventualmente fechar as vacarias."
Ou seja, conclui Carlos Neves, a médio prazo poderá vir a faltar leite nas prateleiras.
"Há esse risco. Não é imediato, porque as coisas demoram tempo a desde que o leite sai da vacaria até chegar à prateleira. Agora, quando o leite subiu, foi precisamente por faltar leite. É que só atualizam quando sentem falta de leite, quando falta de mercado. Há o risco de isso voltar a acontecer, porque o mercado é bastante volátil. É que se não houver uma atenção a nível ao nível do Governo, ao nível da Europa e uma responsabilidade da indústria, há o risco de faltar leite naturalmente a curto ou médio prazo."
Os produtores de leite declaram-se muito preocupados com esta situação, e já está prometida uma reunião com o Ministério da Agricultura.
"O Ministério da Agricultura já tem conhecimento. Estamos em contacto e, em breve, vamos reunir para analisar este assunto."