O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, disse na quinta-feira que foi alvo de troça em Portugal pelo facto de o seu Governo defender o uso de fármacos sem comprovação científica contra a Covid-19.
A declaração de Bolsonaro deu-se durante a sua habitual transmissão em vídeo nas redes sociais, em que, entre outros temas, voltou a defender aquilo a que chama de "tratamento precoce" contra a Covid-19, um conjunto de fármacos sem eficácia contra a doença, como cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina e nitazoxanida.
"Eu vi um deboche [troça] de uma televisão portuguesa em cima da gente. Não sei viram esse filme aí. O repórter falando que entrevistou o [Hamilton] Mourão [vice-presidente do Brasil]. Perguntaram o que é que o Mourão tomou [quando esteve infetado] e ele falou: 'tomei isso'", começou por contar Bolsonaro.
"Daí, a repórter brasileira pergunta: 'tomou isso? mas não tem comprovação científica contra a Covid-19!' e o Mourão respondeu: 'mas eu estou vivo'. Piada em Portugal. Piada!", criticou o mandatário brasileiro.
Após ser diagnosticado com Covid-19 em dezembro do ano passado, Hamilton Mourão fez uso de hidroxicloroquina, azitromicina e nitazoxanida, segundo informou a própria assessoria da vice-presidência na ocasião.
Segundo o Presidente brasileiro, os que falam contra o "tratamento precoce" "tremem" e "falam fino" quando recebem um diagnóstico positivo da doença e passam a "tomar qualquer" coisa.
Bolsonaro aconselhou os brasileiros infetados com o novo coronavírus a procurar um profissional de saúde, assegurando que a "maioria dos médicos" com quem tem conversado receita esses fármacos aos seus pacientes.
O líder brasileiro insinuou ainda que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que cumpre quarentena nos Estados Unidos da América (EUA) após ter sido infetado na sua deslocação à Assembleia Geral das Nações Unidas, possa ter usado medicamentos ineficazes contra a Covid-19.
"Quero que a imprensa, quando o Queiroga voltar ao Brasil... Vocês não vão ter coragem de perguntar, mas vai ter repórter que vai. 'Senhor Marcelo Queiroga, o senhor está vacinado com as duas doses, é um homem que nunca foi visto sem máscara no Brasil e contraiu o vírus'. Ninguém quer dizer que a vacina não serve para nada. Perguntem para ele, se fez algum tratamento inicial nos EUA", disse.
Jair Bolsonaro, um dos chefes de Estado mais céticos em relação à gravidade da pandemia em todo o mundo, voltou na quinta-feira a questionar a eficácia das vacinas, sugerindo que as farmacêuticas teriam algum "interesse comercial" com a terceira dose contra a doença.
"Porquê essa pressão por vacina? Há interesse comercial? Ora, pessoal, não era suficiente uma ou duas doses? As empresas não diziam que era assim? Pois, se tem a terceira dose, tem que ser de graça, ou não é? Não é direito do consumidor?", questionou o mandatário.
Bolsonaro, que recusa o rótulo de "negacionista", disse ainda que a vacina "não é recomendável" para quem já foi infetado porque, segundo o Presidente, quem contraiu o coronavírus "tem mais anticorpos do que qualquer vacina", argumento usado pelo próprio para justificar o facto de ainda não ter recebido o imunizante.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo ao totalizar 596.749 óbitos e 21,4 milhões de infeções pelo novo coronavírus.
A Covid-19 provocou pelo menos 4.771.320 mortes em todo o mundo, entre 233,23 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.