Ainda não sabemos se ficará apenas por um pensamento megalómano de um dos homens mais ricos do mundo ou se será uma realidade nos próximos anos. Elon Musk quer implementar o primeiro chip no cérebro de um ser humano dentro de seis meses e até acredita que é possível restaurar a visão a quem tenha "nascido cego". Enquanto a polémica tecnologia ainda está em fase de testes, há outras tecnologias disruptivas a criar controvérsia e que mostram até onde a Inteligência Artificial pode chegar: quer para o bem, quer para o mal.
Lançado este mês pela OpenAi, o ChatGPT é um assistente virtual, uma espécie de "Alexa sabe-tudo", que em segundos chega a ser capaz de escrever artigos universitários, de compor peças para piano no estilo de Mozart, de resolver equações matemáticas ou de dar resposta a qualquer pergunta que não envolva futurologia. No entanto, o novo chatbot parece também ser capaz de criar Fake News, já que não é supervisionado e trabalha apenas com o cruzamento de dados de cerca de 8 milhões de páginas online.
No Geração Z desta semana, falamos sobre Inteligência Artificial: Quais as iniciativas que Portugal tem desenvolvido para que a população ativa adquira, antes de tudo, competências digitais? Por que razão não há jovens portugueses em número suficiente a seguir cursos tecnológicos se temos algumas das melhores empresas de inteligência artificial do mundo e com postos de trabalho? E as empresas de menor dimensão? De que forma é que se podem adaptar a esta transformação digital? Afinal, em que consiste a Estratégia Nacional de Inteligência Artificial e em que fase estamos? Quais os riscos e os benefícios que a Inteligência Artificial pode gerar?
Luísa Ribeiro Lopes, Coordenadora-Geral do INCoDe.2030, uma iniciativa governamental para desenvolver as competências digitais em Portugal, lança ainda outra pergunta para a qual já tem resposta.
"Será que os robôs vão jogar futebol como jogámos com a Suíça? Certamente que vai ser difícil, mas os robôs vão facilitar-nos muito a vida. O nosso dia-a-dia já está todo pejado de inteligência artificial. Agora, é verdade que temos de ter cuidados e devemos pedir explicações sobre a maneira como as máquinas são programadas".
Há mais de 25 anos ligada à Sociedade da Informação e ao desenvolvimento de projetos digitais, Luísa Ribeiro Lopes admite que "a Europa está preocupada", mas sublinha que quando se olha para a regulamentação, a União Europeia está muito à frente de outros "players tecnológicos como a China ou os Estados Unidos", porque está a regulamentar com a consciência de que "as pessoas são pessoas, existem dados pessoais e não se pode ter uma selvajaria tecnológica".
"Ainda recentemente foi lançada uma proposta de regulamento, a Artificial Intelligence Act, para que haja uma inteligência artificial responsável. Em Portugal já temos um centro para Inteligência Artificial Responsável, por isso estamos muito bem colocados. A evolução tecnológica não faz sentido se não tiver um propósito humanista, com as pessoas no centro", sublinha.
Cursos tecnológicos: uma boa alternativa para entrar no mercado de trabalho, mas sem procura
Nesta altura, Portugal precisa de mais de 80 mil novos profissionais nas áreas de Tecnologias da informação e comunicação (TIC), "um problema europeu", sublinha Luísa Ribeiro Lopes, apesar das iniciativas governamentais que têm sido implementadas.
"Este governo sabe que precisamos de profissionais nestas áreas e todos os anos têm sido abertas mais vagas nos cursos tecnológicos. Por outro lado, também está a ser feito um esforço grande quer nos politécnicos, quer nas universidades, para microdenciações, ou seja, cursos de formação de curta-duração que os habilite a trabalhar nestas áreas no mercado de trabalho".
Há um problema que parece estar enraizado, "mas é possível resolvê-lo", acredita a investigadora que alerta para a necessidade de incutir na sociedade a ideia de que "tanto rapazes como raparigas podem estudar engenharia".
"Há estereótipos que nos são incutidos desde a infância que levam a que raparigas e rapazes não façam as mesmas escolhas educativas. E se as raparigas não têm esta predisposição para escolher áreas TIC, nós estamos a arredar desta possibilidade metade da população, que são as mulheres".
Empresas precisam de se adaptar para "sobreviver no mundo digital"
Portugal tem nesta altura "algumas das melhores empresas de inteligência artificial do mundo", sublinha Luísa Ribeiro Lopes, dando como exemplo a DefinedCrowd (empresa que recolhe, estrutura e enriquece bases de dados para inteligência artificial) fundada pela portuguesa Daniela Braga, e a empresa Unbabel que está a liderar um consórcio de Inteligência Artificial Responsável que, segundo a investigadora, vai "criar postos de trabalho e fazer com que olhemos para a Inteligência Artificial com responsabilidade".
Mas nesta transformação digital, é importante "não deixar ninguém para trás", por isso também as empresas de menor dimensão devem adaptar-se para "sobreviver no mundo digital".
"É verdade que a maioria das empresas em Portugal são microempresas e as pessoas não têm as competências digitais e a capacidade em termos financeiros para fazer esta transformação e nisso nós temos todos que ajudar, e cabe também ao Estado fazer essa aposta no digital e nas empresas", sublinha.
Como primeiro passo, defende a investigadora, as empresas devem começar por adotar novos métodos de trabalho que incluam algoritmos de inteligência artificial "por muito rudimentares que possam parecer".
"Podem começar, por exemplo, por saber quais são as preferências dos clientes para conseguirem mantê-los. E isto pode acontecer no mais básico dos negócios: no cabeleireiro da esquina, num talho, numa farmácia... Quantas vezes é que não recebemos uma mensagem a lembrar que os medicamentos estão a chegar ao fim e para não deixarmos passar o prazo? Isto é a inteligência artificial a funcionar e faz com que o cliente volte."
Cresce a necessidade de cibersegurança e proteção de dados
Para já, há uma certeza: enquanto o mundo digital cresce a um ritmo sem paralelo, os utilizadores ficarão sempre mais expostos ao cibercrime. A divulgação de dados privados como informações pessoais, contas bancárias, dados do cartão de crédito continua a representar "um dos maiores riscos a que estamos sujeitos", daí a importância de se apostar na literacia digital.
"Vejo algum problema quando utilizamos determinadas facilidades tecnológicas sem sabermos os riscos que estamos a correr, sem sabermos que estamos a ser seguidos e tudo aquilo que fazemos estará algures em algum sítio. Ainda agora vimos na China os telemóveis a serem revistados para perceber se as pessoas tinham estado em determinada manifestação.", alerta a investigadora.
Mas há um problema que, na opinião de Luísa Ribeiro Lopes, "é o pior de todos".
"Preocupa-me o facto de a democracia estar em risco em muitos lados do nosso mundo, devido a algumas más utilizações da tecnologia. Já vimos presidentes a serem eleitos ou a não o serem por causa da tecnologia. O risco para a democracia é o pior de todos, porque a democracia é um dos melhores bens que temos, é a liberdade de escolha", sublinha.