O Papa usou expressões fortes como “indignação” e “vergonha” para condenar o que se passou no último século com as comunidades indígenas do Canadá. Encontrou-se pessoalmente com os seus representantes, em diferentes contextos, incluindo privadamente com sobreviventes das escolas residenciais, patrocinadas ao longo de cem anos pelo governo e confiadas maioritariamente a congregações católicas missionárias de origem francesa.
Todos os dias da visita, nas três zonas por onde se espalha o maior número de populações indígenas (Edmonton, Québec e Iqaluit), ouvimos o Papa proclamar sucessivos pedidos de perdão. Peregrinou por Edmonton e Maskwacis, foi ao Lago Saint’Anne, a Québec e a Iqaluit, no extremo norte, penitenciando-se “pelo mal cometido por muitos cristãos nas escolas residenciais e por terem contribuído para as políticas de assimilação cultural e de alforria”.
Para muitos indígenas, só a presença pessoal do Papa no Canadá foi um poderoso sinal. Outros, esperavam um pouco mais do que meras palavras. Todos, no entanto, reconhecem a complexidade de um processo, com investigações dolorosas ainda em aberto e com feridas de séculos.
“Que se progrida na busca da verdade e da reconciliação”, pediu o Papa à despedida. Porque esta visita foi apenas mais um passo num longo caminho de cura. Na verdade, é uma peregrinação que precisa da colaboração de todos, incluindo das novas gerações, para se poder “encarar a história sem rancores nem cancelamentos”, como afirmou antes de deixar as terras geladas de Iqaluit, em direção a Roma.