O ex-ministro da Defesa confirma ter sido informado pelo seu então chefe de gabinete do essencial sobre o aparecimento das armas de Tancos. Mas garante que só leu o documento elaborado pela Polícia Judiciaria Militar no dia em que se demitiu, praticamente um ano depois.
Ouvido esta tarde na Comissão Parlamentar de Inquérito, Azeredo Lopes explicou aquilo que soube quando as armas reapareceram na Chamusca.
“Não tenho memória de ver o documento. Eu nunca disse que não fui informado pelo meu chefe de gabinete, aquilo que eu disse, e repito, é que em momento posterior, no decurso do dia, o general Martins Pereira me transmitiu a existência de um informador, um informador que não podia ser identificado, e que para esse efeito em vez de ter sido uma chamada anónima, tinha sido uma chamada de facto anónima, mas feita para alguém da Policia Judiciária Militar que estaria colocado, confesso que não percebi porquê, que estaria necessariamente colocado na margem Sul.”
Azeredo Lopes garante que só leu os pormenores da operação, quando – no dia da demissão – o próprio primeiro-ministro lhe mostrou o memorando da Polícia Judiciária Militar.
“O primeiro-ministro teve a delicadeza de compreender as minhas razões, e depois deu-me a conhecer o documento que até aí tinha recusado ver. Eu não estou a dizer que não podia já ter visto o documento, mas quando o meu chefe de gabinete encontrou o documento eu preferi não ver. Eu disse-lhe para não me mostrar, porque a partir do momento em que se começam a ler documentos em tempos históricos diferentes, torna-se difícil reconstruir aquilo que sabemos e aquilo que não sabemos.”
O ex-ministro da Defesa revelou ainda que o documento da Polícia Judiciária Militar só existe porque o seu chefe de gabinete não o destruiu – como lhe foi pedido pelos investigadores.
“Não soube que eles tinham entregue um papel, até porque aquilo que foi pedido ao chefe de gabinete foi que destruísse o papel. Aquilo que o chefe de gabinete fez foi fotografar o papel, supondo eu que tenha destruído o registo físico do papel, mas confesso que não desci a esse pormenor nas conversas que tive com o general Martins Pereira.”
Na audição desta tarde, Azeredo Lopes admitiu que a Judiciária Militar agiu à margem das orientações do Ministério Publico – o que só percebeu quando a Procuradora Geral da República lhe telefonou muito incomodada. Mas diz acreditar que não houve uma encenação, ou um acordo com os ladrões.
“Que há uma atuação que vai contra aquilo que era a determinação da Procuradora Geral da República, há com certeza.
Quanto à existência de um acordo, eu não considero que legitimamente se possa extrair da leitura um qualquer acordo com os autores do furto. Acho essa interpretação, no mínimo, ousada.”
Questionado sobre como avalia a gestão política que fez deste caso, Azeredo Lopes diz que talvez tenha cometido um erro:
O de assumir protagonismo, para evitar a “decapitação” do Exército.
“No mundo ideal, em que as coisas ocorressem com lisura e hombridade, havia dois comandantes que tinham apresentado a sua imediata demissão. Havia uma consequência que eu tenho como mais ou menos inevitável que era essas demissões serem acompanhadas também pelo Chefe do Estado Maior do Exército. Mas como sabe não foi isso que aconteceu.
Portanto, há aqui uma decisão política de um ministro que, a partir daí, decide assumir uma responsabilidade que por ventura não era a sua, justamente para proteger o Exército de uma decapitação que seria inevitável.”