O presidente do coletivo de juízes que julga o caso da morte do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk no aeroporto de Lisboa foi muito claro nesta manhã de quarta-feira: “o tribunal vai trabalhar sem as reconstituições do crime”.
“Foram feitas sem advogados”, justificou Rui Coelho. “Para evitar engrenagem da decisão, faremos toda a prova dos factos sem a reconstituição. Se se mostrar necessária iremos avaliar”, acrescentou.
A questão tinha sido levantada ontem, durante a primeira sessão, por Ricardo Serrano, advogado de Duarte Laja, “é a primeira vez que num processo com estas características tivemos um procurador que fez reconstituição do que aconteceu sem notificar os advogados. Demonstra deslealdade”.
Nesta quarta-feira, numa altura em que o advogado Ricardo Serrano pedia ao tribunal para questionar a primeira testemunha a ser ouvida em audiência com declarações prestadas na dita reconstituição, o juiz presidente respondeu negativamente, comunicando a todos que o tribunal não vai tomar em consideração essa diligência.
“Ele estava a tentar arrastar-se até à porta”
Manuela Cabral, empregada limpeza no Centro Instalação do Aeroporto Humberto Delgado (CIT), foi a primeira testemunha a ser ouvida em tribunal. Contou que entrou às 7 horas no turno e estavam ao serviço quatro seguranças que tinham feito o turno da noite e que comentaram que tinham tido uma noite “agitada”.
“Quando entrei para a minha sala, o passageiro estava a falar sozinho. Estava a falar num tom normal. Ele tinha as mãos livres”, afirmou, garantindo que nunca entrou na sala e que o segurança à porta nada teria nas mãos.
“A porta de material de limpeza é ao lado da sala dos médicos onde estava o passageiro. Quando entrei, estava um senhor à porta, que estava a vigiar; estava sentado e a porta aberta. O passageiro estava sentado num colchão com mãos livres. Onde estava o segurança, estava lixo e um lençol descartável”, relatou.
Na altura em que os vigilantes mudaram de turno, a sala deixou de ser vigiada. A testemunha afirmou que “ele [passageiro] estava com as mãos desamarradas e a tentar arrastar-se até à porta". A testemunha fez um gesto com a mão "para ele parar”.