​Supermercados admitem travar preços, mas não podem impedir aumentos
28-03-2022 - 13:30
 • Sandra Afonso

As faturas da luz e do gás, rações, pão, papel, ou a conta do supermercado já estão mais caras. Segundo as contas da DECO, um cabaz de bens essenciais custava na última quarta-feira, dia 23, mais 8,65 euros, em comparação com 23 de fevereiro. Ou seja, no espaço de um mês aumentou 4,71%.

A escalada de preços está imparável e não há, para já, indicação de até onde irá chegar. Começou com a pandemia e a dificuldade na distribuição e transporte de matérias-primas, agravou-se com o aumento da energia e disparou com a ofensiva na Ucrânia e a situação de seca.

Várias empresas, marcas e negócios já anunciaram ou sinalizaram aumentos de bens e serviços, enquanto outras suspenderam ou reduziram a produção.

As faturas da luz e do gás, rações, pão, papel, ou a conta do supermercado já estão mais caras. Segundo as contas da DECO, um cabaz de bens essenciais custava na última quarta-feira, dia 23, mais 8,65 euros, em comparação com 23 de fevereiro. Ou seja, no espaço de um mês aumentou 4,71%.

Retalhistas admitem aumentos, mas podia ser pior

Os grandes retalhistas não negam estes aumentos, mas garantem que o cenário podia ser muito pior. Asseguram que estão prontos para assumir parte dos custos.

A Jerónimo Martins "está preparada para mitigar e para poder equilibrar o que pode passar ao consumidor e o que vai ter que absorver ela mesma, mesmo que isso implique talvez a revisão de alguma lucratividade", sublinhou Pedro Soares dos Santos, na conferência de imprensa após a apresentação dos resultados.

O líder do grupo, com as marcas Pingo Doce e Recheio, avisava que os números estão subavaliados, "em tudo o que é 'commodities', a inflação é muito superior a tudo o que se está a dizer: quando pensa que o mercado tem uma inflação de 10%, olha para os cereais e tem 40% e 50%”.

O exercício das próximas semanas é avaliar os custos que serão absorvidos e os que serão suportados pelo consumidor. “Nós não vamos ficar com tudo", avisa o líder da Jerónimo Martins.

Ainda assim, Pedro Soares dos Santos garante que "estamos prontos para os sacrifícios que tivermos de fazer porque, nesta fase, não há nada como proteger o fundamento dos nossos negócios que é o nosso consumidor".

Na mesma linha, também Cláudia Azevedo, presidente-executiva da Sonae, já admitiu que o agravamento da energia e dos preços está a afetar o grupo e todos têm de participar.

“Toda a cadeia de valor vai ter de absorver alguns choques e vai ter de procurar formas alternativas de melhorar. Se os preços aumentam num sítio, vamos ter de baixar noutro sítio, procurar outras formas", diz.

Para a Sonae, dona do Continente e Modelo, a palavra de ordem é equilíbrio. “Os custos estão aí e não pode tudo passar para o consumidor final, nem pensar", acrescenta Cláudia Azevedo.

Pela Mercadona, líder do retalho alimentar em Espanha que já chegou a Portugal, o diretor de comunicação, André Silva, recusa falar em preço e remete o tema para a Associação do sector.

Grandes superfícies rejeitam problema de abastecimento

Apesar dos atuais constrangimentos, os retalhistas afastam eventuais ruturas de stocks. O mercado português é abastecido na Península Ibérica, lembra à Renascença André Silva, da Mercadona.

O diretor de comunicação da marca espanhola explica que o único problema foi registado com o óleo de girassol, há duas semanas, mas já está ultrapassado.

Também não antecipa constrangimentos com outros produtos, porque “o nosso mercado é abastecido na Península Ibérica”, o que anula a necessidade de procurar mercados alternativos.

A presidente-executiva da Sonae garante que "não falta nada" nos armazéns do grupo. Segundo Cláudia Azevedo, não se coloca a possibilidade de racionamentos na venda de produtos, na sequência da guerra na Ucrânia.

Ainda assim, em nota enviada à Renascença, o Continente acrescenta que “está a encontrar alternativas, inclusive de compra de matéria prima noutros mercados, por forma a garantir que não haja qualquer falta de produtos nas lojas”.

Cláudia Azevedo não antecipa faltas de produtos ou que as limitações na venda do óleo de girassol se repitam com outros produtos.