A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, considerou hoje que a moção de censura ao Governo, apresentada pelo CDS-PP, "não é para ser levada a sério", acusando os centristas de contradições.
Falando aos jornalistas à margem da reunião da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, que decorreu em Lisboa, a líder do BE referiu que "não deixa de ser interessante, ou revelador, que o CDS apresente a contestação, as greves, as contestações laborais como uma das causas da moção de censura, quando o mesmo CDS tem votado contra todas as reivindicações concretas destas contestações".
"Os trabalhadores não fazem reivindicações no vazio contra um governo, fazem reivindicações concretas sobre a sua carreira, sobre o seu salário, sobre as suas condições de vida, e sobre todas essas matérias, todas as posições do CDS foram contrárias a qualquer solução que hoje está a ser pedida em várias áreas", sustentou.
Catarina Martins concluiu por isso que "uma moção de censura que é tão contraditória nos seus termos não é seguramente para ser levada muito a sério".
"O Bloco de Esquerda votará, naturalmente, contra, como já toda a gente sabia mesmo antes de a moção de censura ser apresentada, e o próprio CDS-PP também", acrescentou.
Para a líder bloquista, esta moção de censura "tem mais a ver com o lançamento da campanha eleitoral à direita".
"Julgo que é isso que o CDS está a fazer, a posicionar-se, está no seu direito", considerou, advogando que "acrescenta muito pouco do ponto de vista do debate político".
A moção de censura ao Governo, anunciada na sexta-feira pela líder do CDS, Assunção Cristas, vai ser discutida no parlamento na quarta-feira, disse à Lusa fonte da direção da bancada centrista.
A marcação da data, que obrigou ao reagendamento dos trabalhos da próxima semana na Assembleia da República, foi acordada pelos grupos parlamentares.
Esta será a segunda moção de censura ao Governo minoritário do PS, chefiado por António Costa, ambas apresentadas pelo CDS-PP, e será a 30.ª em 45 anos de democracia, após o 25 de Abril de 1974.
A última a ser discutida no parlamento foi também apresentada pelos democratas-cristãos em 24 de outubro de 2017, centrada nas falhas do Estado no combate aos grandes incêndios desse ano. Foi rejeitada com 122 votos contra, do PS, PCP, BE, PEV e do deputado do PAN, e 105 votos favoráveis, do CDS-PP e do PSD.
Para ser aprovada, o que implica a queda do Governo, a moção tem que obter 116 votos. PS e os outros partidos de esquerda (PCP, BE e PEV) têm maioria na Assembleia da República.
A presidente do CDS-PP justificou a moção de censura com "o esgotamento" do Governo, "incapaz de encontrar soluções" para o país e de só estar a pensar "nas próximas eleições".