Desta vez, o escritor Afonso Cruz é a personagem principal. Ao longo de uma hora, no espaço da Capela da Imaculada, no Espaço Vita, em Braga, o autor canta, toca e conta a história de uma viagem que fez ao Chile, onde aterrou no meio de uma convulsão política.
Como pano de fundo do espetáculo “O Que a Chama Iluminou” estão fotografias que o autor de “Para Onde Vão os Guarda-Chuvas” tirou. Retratam um país onde os resquícios da ditadura de Pinochet ainda deixaram marcas.
“Mudar de país na América Latina, é como mudar de camarote no Titanic”, é uma frase repetida no espetáculo e que deixa no espetador a noção da instabilidade da vida naquele território que serve de espaço geográfico deste pais.
A partir daquilo que viveu, Afonso Cruz quis falar sobre de vários temas no espetáculo que foi desafiado a criar pela organização da primeira edição do Festival Literário Utopia, em Braga. À Renascença, o escritor explica que o espetáculo “toca assuntos que são transversais, como o fim, a extinção de povos, de línguas, as mortes particulares, portanto, a perda e a ausência”.
Segundo o escritor “o Chile presta-se” a falar sobre o fim, “até pela sua geografia, porque é sempre visto como um fim do mundo”. E foi a caminho do “Fim do Mundo”, ou seja, a Patagónia que Afonso Cruz sofreu um acidente que lhe poderia ter tirado a vida. Fez disso matéria para este “O que a Chama iluminou”. Numa das fotografias que apresenta no espetáculo mostra as feridas que ainda hoje lhe marcam a cara.
Mas este espetáculo em que o escritor canta, tem muitas camadas. Desde logo é acrescentada uma linguagem performativa e de dança através da artista Mariana Ramos Correia que toca violoncelo, canta com Afonso Cruz, dança, mas também pontua o texto narrado na primeira pessoa pelo autor.
“Ainda que seja um espaço formal, de alguma maneira, é muito menos do que um auditório que é uma coisa em que há um palco, e toda a gente está a olhar para esse palco”. Aqui segundo o autor, “a distribuição é diferente, a luz é diferente”. A isto acrescenta-se a dimensão religiosa de se tratar de um espaço sagrado. “Num contexto religioso, a morte, a extinção, a perda, a dor são temas recorrentes”, refere Afonso Cruz
Com direção técnica de Joaquim Madaíl, “O Que a Chama Iluminou”, estreou na sexta-feira e repete este sábado na Capela da Imaculada, às 22h, no âmbito do Festival Literário Utopia, em Braga.