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O dirigente da empresa à qual o Governo encomendou, por ajuste direto, uma remessa urgente de máscaras diz que nem sabia que o prazo indicado no contrato prevê a entrega até ao próximo mês de janeiro.
João Cordeiro, que foi candidato e vereador na Câmara de Cascais, nas listas do PS, diz à Renascença que não tinha reparado que o contrato assinado entre a sua empresa – a Quilaban – e o Governo, para o fornecimento de máscaras, prevê a entrega até janeiro de 2021 apesar de ser invocada uma urgência imperiosa para a adjudicação por ajuste direto, por 9 milhões de euros.
João Cordeiro atribui o prazo contratual a um lapso no programa informático do Ministério da Saúde, sublinhando que já pagou toda a encomenda, que vem da China, e o que quer é fazer a entrega o quanto antes para receber o mais rapidamente possível.
“Eu não consigo perceber como é que estão 286 dias no contrato. Mas o que eu quero dizer é o seguinte: eu já paguei a mercadoria toda, para entrar na lista de espera da receção dos produtos. Já paguei o avião, portanto veja, o que eu quero é fornecer ao Ministério e receber o mais rapidamente possível do Ministério.”
“Para já, já entreguei uma parte das máscaras, e vai-me chegar no sábado ou no domingo de madrugada um avião que me vai garantir a entrega da globalidade, 75% de toda a encomenda e passados dois dias espero receber o último avião para fazer a entrega completa ao Ministério da Saúde.
Cordeiro diz que nem tinha reparado nesse detalhe do contrato. “Aquilo é um lapso do programa. Eu faço muitos contratos com o Ministério da Saúde. E o que se passa é que em termos de reagentes o Ministério da Saúde faz um contrato e esse contrato é para o fornecimento de reagentes durante um ano. A ideia que eu tenho é que o Ministério utilizou o mesmo software, não tendo em atenção uma outra realidade.”
Governo confunde política com realidade
A Renascença perguntou ainda a João Cordeiro até que ponto faz sentido a mercadoria estar a ser encomendada na China, quando o Governo já disse que Portugal está neste momento a produzir cerca de um milhão de máscaras, que cobrem o consumo interno e ainda servem para exportação. Em resposta, o farmacêutico ironiza, dizendo que os governantes tendem a ter dificuldades em distinguir a política da realidade.
“Essa pergunta tem de fazer ao Governo e ao Ministério da Economia. Temos de separar o que é política do que é a realidade. Muitas vezes os políticos têm alguma dificuldade em constatar a realidade.”
“Seria bom um anúncio no jornal, da parte do Governo, a dizer as empresas que estão a produzir máscaras, e máscaras que depois sejam aceites pelos clientes”, remata.