Luis Ventura Fernández, leigo voluntário na Amazónia, deixou um alerta, este sábado, no Encontro Nacional de Leigos, a decorrer em Évora, para os efeitos dos elevados níveis de produção e consumo
"A Terra não é um armazém”, sublinhou, desafiando a uma “profunda conversão ecológica”. “Nós também somos terra”, afirmou Luis Fernández, casado e pai de quatro filhos, que esteve na Diocese de Roraima, no Brasil, com a família, onde se dedicou à causa indígena.
Para o leigo missionário da Consolata, a Terra “não apenas um factor de produção”, antes “irmã e companheira” da existência no projecto Criador de Deus”.
“Temos a missão de continuar a obra criadora de Deus, mas não a partir do domínio, mas cultivando, lavrando, cuidando”, recordou, sublinhando a "lúcida reflexão" sobre a ecologia que o Papa Francisco faz na encíclica “Laudato Si”.
Luis Fernández disse que é necessário “pensar com honestidade a urgência de outro modelo de desenvolvimento e de relações sociais que coloquem a pessoa, a vida, tudo aquilo que vem de Deus no centro”.
“O modo como nós extraímos bens da natureza, como a gente comercializa e consume, esse modo de vida está a deixar marcas, feridas, na nossa Mãe Terra e em muitas famílias, comunidades e povos que vão ficando à margem”, sustentou
O antigo voluntário na Amazónia lembrou que a Igreja tem de “abandonar a autorreferência” porque não tem “a solução para todos os graves problemas” que afetam a família humana, sugerindo uma cultura de “paixão pelo diálogo” com “outras matrizes culturais e espirituais”.
Para o antropólogo espanhol, as sociedades ocidentais enfrentam o desafio de “mudanças no estilo de vida, nos pequenos gestos do quotidiano”, tanto na “vida pessoal”, como na “familiar, comunitária”.
“A graves problemas só podemos responder com redes comunitárias”, afirmou.
Na sua comunicação, Luis Fernández falou sobre a situação da Amazónia, olhada erradamente como um “lugar vazio” e com “recursos sem limites”, onde o desenvolvimento, o progresso e o crescimento depende da “exploração” dos bens naturais”
Estas três lógicas “são perversas e não correspondem à verdade”, frisou.
Para o leigo missionário da consolata, o ser humano tem de se relacionar com o outro, com a “Mãe Terra” e com o sagrado” e a quebra dessa tríplice relação é causa da pobreza, dos desequilíbrios ambientais e da infelicidade.
“Os indígenas vivem a harmonia dessa tríplice relação”, garantiu Luis Fernándes no 3.º Encontro Nacional de Leigos, que decorre em Évora para debater o tema “Nada nos é indiferente entre a Terra e o Céu”.