A incerteza colocada pela guerra, a crise da energia e a vaga da inflação sugerem demasiadas incógnitas para o crescimento e despesa, mas situando distintamente o agravamento dos preços como uma significativa ameaça ao nível de vida dos portugueses em 2023.
Na semana em que o ritual de aprovação do Orçamento do Estado foi cumprido no parlamento, não faltam os alertas para a enorme margem de variáveis que podem afastar o documento da realidade.
A mais pessimista das previsões das instituições de referência, a da OCDE, sugere que no biénio 2022/23 o custo de vida terá aumentado 15%. Se o rendimento dos trabalhadores por conta de outrem subir, neste período, 7%, muitos vão perder permanentemente o equivalente a um salário. Acresce à inflação um significativo aumento das taxas de juro no crédito à habitação de 1 milhão e meio de famílias de classe média.
Com este pano de fundo, também esta semana a Comissão Europeia mostrou reservas a este primeiro orçamento de Fernando Medina identificando riscos do lado da despesa a pressionar a dívida e o défice.
Por último, mas não menos importante, as previsões de Outono de Bruxelas colocam a Roménia a ultrapassar Portugal no PIB per capita em 2024, noticiou o Expresso. Durante anos o país mais pobre da UE, a Roménia aderiu em 2007 quando Portugal já contava com 21 anos de integração. Portugal cresce, mas os outros crescem ainda mais e mais depressa.
Um orçamento potencialmente deslocado do momento, a visão de António Costa para o futuro da UE, a relação do poder político executivo com os reguladores e a excessiva ‘futebolização’ dos políticos portugueses são os temas para aprofundar.
A análise é de Nuno Garoupa, professor da GMU Scalia Law, João Cerejeira, professor da Universidade do Minho e Nuno Botelho, líder da ACP – Câmara de Comércio e Indústria do Porto.