A Europol mostra-se muito preocupada com a evolução do crime organizado na Europa e fala num ponto de viragem, com ameaças á segurança cada vez mais sérias e complexas - e inclui a pandemia como um dos principais riscos da atualidade.
Na apresentação do relatório de Avaliação da Ameaça do Crime Grave e Organizado (SOCTA, na sigla em inglês), esta segunda-feira em Lisboa, na sede da Polícia Judiciária, em Lisboa, a diretora-executiva da Europol, Catherine de Bolle, revelou uma rápida adaptação das organizações criminosas ao novo contexto provocado pela covid-19.
"A atual situação de crise e os previsíveis efeitos económicos e sociais criaram as condições ideias para aumentar a ameaça do crime organizado na Europa. Os criminosos foram rápidos a adaptar os produtos ilegais, o modus operandi, e a narrativa à pandemia da covid-19. Exploram o medo e a ansiedade dos europeus, lucrando com a escassez de alguns bens durante a pandemia. Uma potencial recessão profunda provocada pela pandemia pode facilitar o crescimento do crime organizado na União Europeia", alerta Catherine de Bolle.
Também a comissária europeia para os Assuntos Internos, Ylva Johansson, mostrou apreensão com o efeito que a crise pandémica já está a ter no desenvolvimento do crime organizado.
"Hoje em dia, apenas 1% dos lucros do crime são confiscados. Temos que seguir o dinheiro, para apanhar os criminosos em investigações financeiras. Temos que combater a corrupção, em especial agora que estamos a mobilizar dinheiro publico para cuidados de saúde e recuperação. Nem um euro, nem um cêntimo desse dinheiro pode ir parar aos bolsos dos criminosos", disse a comissária.
Europol pode passar a investigar casos que ponham em causa os valores europeus
A comissária europeia para os Assuntos Europeus escusa-se a comentar a reforma do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), e as eventuais implicações que pode ter no sistema global de controlo de fronteiras em todo o espaço Shengen e também contorna a morte do cidadão ucraniano no Aeroporto de Lisboa, dizendo que é uma questão interna de Portugal.
Ainda assim, pressionada pelos jornalistas, Ylva Johansson defendeu a hipótese da Europol passar a investigar também casos que ponham em causa os valores europeus.
"Recentemente foi apresentada uma renovação do mandato da Europol, e dela consta a proposta de que a Europol possa propor a abertura de investigações mesmo sobre casos que não tenham acontecido numa fronteira. Desde que seja um crime que ponha seriamente em causa os valores comuns da União Europeia. É uma nova possibilidade que eu propus, e que pode envolver casos que aconteçam não apenas no controlo de fronteiras", sublinhou.