A pandemia de Covid-19 deixou 270 milhões de pessoas a passar fome em 2020, alertou esta segunda-feira o secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Coube a Angel Gurría dar início à conferência sobre "Equidade nas vacinas e construção de resiliência: Dois testes para a solidariedade global".
“Por causa da Covid-19 mais de 100 milhões de pessoas foram empurradas para uma situação de extrema pobreza em 2020 e 270 milhões de pessoas passam fome. Este sofrimento e estas perdas vão continuar enquanto esta pandemia persistir”, declarou.
Neste encontro foi destacada a extrema importância de colocar os países menos desenvolvidos, e nestes, todo o continente africano, numa lista igualitária de vacinação e combate a esta pandemia.
Angel Gurría sublinha que a “cooperação de todos num esquema vasto de vacinação” representa um “beneficio mútuo só possível através de solidariedade”.
“Mas isto é também um ato de esperteza, é ético e moralmente correto, é economicamente certo e também politicamente certo”, salientou.
No final da sua intervenção, o secretário-geral da OCDE deixou um apelo: “caros amigos, só se atuarmos juntos podemos vencer. As economias mais ricas não vão vencer o vírus, não vão recuperar a não ser que ajudem os países e economias mais frágeis. Isto traz um novo sentido à solidariedade global, à ajuda multilateral. Nunca tivemos uma crise tão global com necessidades tão óbvias e imediatas”.
“Restam-nos ainda 61 dias”
O diretor-geral Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, fez contas e traçou um objetivo que definiu como fulcral: “peço a todos que se juntem todos ao esforço de vacinação dos profissionais de saúde e idosos em todos os países nos primeiros 100 dias deste ano”.
“Restam-nos 61 dias, todos os momentos contam, acredito que juntos iremos conseguir e chegar lá, ainda não é tarde. Façamos usos dos 61 dias para que todos possam vacinar os profissionais de saúde e os mais velhos”, defendeu Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Pediu-se que as ajudas disponibilizadas em matéria de vacinação, mesmo as que chegam via Covax (o grupo que reúne várias ajudas voluntárias para fornecer vacinas contra a covid-19, particularmente a países de médio e baixo rendimento), não substituam, ou anulem, outras ajudas já previstas, que sejam sempre ajudas adicionais.
Jorge Moreira da Silva, diretor na OCDE, concluiu “dar acesso à vacina aos países em desenvolvimento como forma de travar uma crise financeira é vital. Teremos de saber maximizar as sinergias bilaterais e multilaterais e apostar na transparência de fundos em tempo real para conseguirmos atempadamente travar a crise. A crise covid revelou a ausência de mecanismos de coordenação internacional. O esforço de todos pode ser maximizado através de contactos diplomáticos e usando o poder político dos governos da OCDE, desenvolvendo estratégias de ação para responder coletivamente a choques globais”.
Destacou ainda algumas conclusões que mostram bem as disparidades entre países, dados do mais recente relatório da OCDE. “Detetámos que todos os países estão a enfrentar a mesma ameaça à vida, mas a capacidade de resposta é definida em grande parte por realidades sólidas e pré-existentes”, acrescentando um exemplo claro disso.
“A proteção social em países subdesenvolvidos (antes da crise Pandémica) era em média de 4 dólares (3,32 euros) por capita contra 695 dólares (577 euros) nos países desenvolvidos. Em matéria de perdas de tempo escolar, havia uma média de 4 meses nos países subdesenvolvidos versus uma média de 6 semanas nos países desenvolvidos em 2020.”
“Pensem nos países africanos”
A África do Sul esteve representada neste encontro por Ebrahim Patel, ministro do Comércio, Indústria e Concorrência.
Descreveu a Alemanha nesta altura como um parceiro importante uma vez que o países está a trabalhar com África para vacinas, lamentando eu nesta crise quem menos tem está a ser obrigado a pagar mais, referindo-se a ausência de condições e empresas Africanas que possam assegurar fabrico ou transporte em condições das vacinas tendo, por isso, de fazer opções extra continente o que encarece de forma insuportável o processo.
Ebrahim Patel aproveitou para deixar uma palavra a todos os participantes: “Precisamos de uma boa vacina em todo o mundo e não apenas em algumas partes dele. Pensem nos países africanos”.
O encontro contou com outra participação Portuguesa Francisco André, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação que lembrou que “não podemos estar seguros enquanto todo o globo não estiver vacinado”.
“Não podemos falhar"
O mundo atravessa um dos maiores desafios já mais colocados e Dag-Inge Ulstein, ministro do Desenvolvimento Internacional da Noruega, não tem dúvidas: “a vacinação nacional apenas ajuda o vírus. A vacinação nacional pensada apenas dessa forma só ajuda o vírus!”.
Para o ministro norueguês, “precisamos de mais dinheiro, mais partilha de tecnologia, transparência, não podemos falhar porque se falharmos agora isso vai minar o trabalho comunitário em futuros momentos”.
O encontro presidido pelo secretário-geral da OCDE contou ainda com a participação da comissária Europeia responsável pelas Parcerias Internacionais, Jutta Urpilainen, e ainda de membros dos Governos de Portugal, Espanha, Costa do Marfim, África do Sul, Noruega, e dirigentes da indústria farmacêutica, organizações internacionais e organizações não governamentais (ONG).