Mais de um mês após o lançamento do concurso para colocação dos 365 médicos de família, os especialistas continuam sem trabalhar numa altura em que há quase um milhão de utentes sem clínico, alertaram representantes destes profissionais esta quinta-feira.
“Os médicos de família especialistas desde abril ainda não foram contratados quando há uma lei que obriga que sejam contratados num mês”, disse hoje à agência Lusa o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, adiantando que quando forem contratados ”é para colmatar os médicos que, entretanto, se vão reformar”.
Para o dirigente sindical, é fundamental que estes médicos comecem a trabalhar, porque há quase milhão de utentes sem médico de família, uma situação agravada com o facto de os médicos estarem a ser chamados para acompanhar os lares e os doentes com covid-19.
Segundo dados do Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS), em agosto havia 978.396 utentes sem médico de família.
Os agrupamentos de centros de Saúde (ACES) da Amadora e de Sintra são os que apresentam os maiores números de utentes sem médico de família, com 49.794 (29,26%) e 96.026 26,83%, respetivamente.
No ACES Algarve Barlavento, há 44.068 utentes (25,41%), e na região de Lisboa e Vale, nos ACES do Arco Ribeirinho estão nesta situação 51.631 utentes (23,57%), da Arrábida 50.594 (21,89%), do Estuário do Tejo 42.902 (19,52%) e de Cascais 30.452 (14,55%).
“De uma forma perfeitamente inqualificável, os ministérios da Segurança Social e da Saúde remetem para os médicos de família a solução dos problemas dos lares quando, do nosso ponto de vista, essa responsabilidade deve ser assacada aos responsáveis dos lares com o apoio de Segurança Social”, defendeu Roque da Cunha.
Para o sindicalista, o Governo ao “desresponsabilizar as entidades que gerem os lares” de terem médicos e enfermeiros, com o apoio da Segurança Social, está “a criar condições para aumentar a conflitualidade entre os utentes e os médicos de família”.
“Em primeiro lugar, porque retira meios ao Serviço Nacional de Saúde e tempo para que os utentes desses médicos sejam acompanhados”, havendo consultas que vão ter de ser canceladas.
Para Roque da Cunha, “é exigível, é obrigatório, eticamente e politicamente”, que o Governo resolva o problema.
“Com o aproximar da gripe, nós não queremos que os portugueses que têm os seus pais e familiares nos lares e as próprias pessoas que estão nos lares tenham a falsa sensação de segurança e, por isso, é exigível que exista um médico e um enfermeiro nesses lares”, reiterou.
A Ordem dos Médicos também manifestou hoje preocupação com o facto dos novos médicos de família ainda não estarem a trabalhar, tendo “sobretudo em consideração a grande carência de médicos de família que existe no Serviço Nacional de Saúde e o facto de muitos destes médicos continuarem a ser desviados para o acompanhamento da pandemia, sem possibilidade de se assegurar resposta aos outros doentes”.
“Já passou cerca de um mês desde a data limite para os novos médicos de família se candidatarem aos lugares. Tiveram apenas cinco dias para apresentarem as suas candidaturas, precisamente pela urgência. No entanto, incompreensivelmente, o concurso fechou e continuam por colocar”, lamenta o bastonário da OM em comunicado.
Para Miguel Guimarães, “é urgente” que, com a aproximação do inverno e de uma segunda vaga, “o Ministério da Saúde redesenhe a sua estratégia” para deixar de haver “tantas barreiras no acesso aos centros de saúde”.