O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, voltou a pedir uma democracia mais forte. Foi no habitual discurso comemorativo do 5 de outubro, na Câmara de Lisboa
Há um ano, o Presidente apontava a necessidade de uma democracia com mais qualidade, com melhores leis, avisava que os erros e a incompetência podem fragilizar e matar a democracia. Este ano, Marcelo completou esse aviso.
O Presidente avisou que haverá "democracias mais fortes se não nos contentarmos em esperar para ver" e disse ainda que não se pode deixar morrer a liberdade de pensamento e de expressão e que é essencial fazer reformas a sério.
“Podemos fazer democracias mais fortes, se não nos contentarmos em esperar para ver, podemos fazer europas mais fortes se não formos egoístas ou retardatários, podemos fazer organizações universais mais fortes, se não nos habituarmos a prometer ano após ano a sua reforma sabendo que não vamos cumprir. Podemos reformar a sério para não termos de ver contrarreformas, fazerem ou pretenderem fazer aquilo que fizemos, de conta que não importava assumir."
Num discurso de pouco mais de 10 minutos, Marcelo lembrou que a balança de poderes no mundo está a mudar e avisou que as instituições ou mudam a bem, ou então mudam a mal, e deu exemplos aos quais é preciso estar atento.
“Ou as instituições internacionais ou domésticas mudam a bem ou mudarão a mal, e mal porque tarde e atabalhoadamente. E tudo isso poderá suceder com o clima se nos atrasarmos, a energia, a inteligência artificial” e acrescenta que “tudo isso poderá suceder com a incapacidade ou a lentidão de nos superar da pobreza e das desigualdades sociais, ou no reconhecimento do papel da mulher, ou do papel das minorias migrantes e em particular dos jovens que continuam mobilizados no país real, mas nem sempre se vê suficientemente representados no país oficial”, referiu.
O discurso teve ainda outros alertas, para que as instituições se aproximem da população e que não permitam abrir espaços a outras forças. Marcelo Rebelo de Sousa sustenta que os sistemas não podem demorar mais tempo a perceber esta nova dinâmica.
“E tudo isto poderá suceder nos mais diversos sistemas políticos, partidários, económicos e sociais, mesmo nos democráticos. Se demorarem eternidades a compreender que devem evoluir e reformar-se, reaproximar-se dos povos. E desse modo, não deixarem espaço para que outros preencham o vazio que vão deixando atrás de si. Tudo isto poderá suceder e mais depressa do que se pensa. À mudança submergir pântanos, revolver águas paradas, abrir comportas demasiado tempo encerradas”.
O alerta no mesmo já tinha sido escutado minutos antes, na intervenção do presidente da Câmara de Lisboa. Carlos Moedas alertou para o divórcio que existe entre a política e as pessoas, que conduz a um vazio “capturado pelas minorias barulhentas e os ativismos radicais” que podem levar ao fim do atual regime.
“É este o atual divórcio que todos sentem entre a política e as pessoas. A política tem que voltar a ser vista, sentida e vivida pelas pessoas. Mas entre este mundo imaginário e o mundo real das pessoas, o que é que há? Há um vazio, capturado pelas minorias barulhentas e os ativismos radicais. À falta de um ativismo social moderado que dê respostas concretas, é a estes que as pessoas se agarram”, disse o autarca.
Enquanto as cerimónias decorriam na Praça do Município, foram escutadas algumas palavras de ordem, ao longe. Desta vez, a entrada no espaço fronteiro aos Paços do Concelho foi vedada á população, tendo as grades de segurança sido colocadas longe da vista dos convidados.
Na sessão estiveram os líderes parlamentares do PS, do PCP, do Bloco de Esquerda. Também dois líderes partidários: Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, e André Ventura, do Chega.
Luís Montenegro esteve ausente, por motivos pessoais, fazendo-se representar por Hugo Soares, secretário-geral do PSD.