O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, define como "prioridade imediata" no Sudão um cessar-fogo de "pelo menos três dias", tendo em conta o "Eid al-Fitr", celebração muçulmana que marca o fim do jejum do Ramadão.
No final de uma reunião convocada pela União Africana para abordar a dramática situação no Sudão, na seda da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, Guterres disse ter assistido a um forte consenso de todos os participantes em condenar os combates no Sudão e em pedir o fim das hostilidades.
"Como prioridade imediata, apelo a um cessar-fogo de pelo menos três dias, marcando as comemorações do 'Eid al-Fitr', para permitir que os civis presos em zonas de conflito escapem e procurem tratamento médico, alimentos e outros elementos essenciais", disse o líder da ONU, esta quinta-feira.
"Este deve ser o primeiro passo para uma pausa nos combates e abrir caminho para um cessar-fogo permanente", acrescentou Guterres, no final do encontro que juntou a Liga dos Estados Árabes, a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento e a União Europeia, além de representantes de diversas países que "estão profundamente empenhados em resolver a crise".
Questionado sobre o motivo para acreditar que este eventual cessar-fogo teria um resultado diferente das duas tentativas anteriores - que falharam -, o ex-primeiro-ministro português disse confiar na questão da religião.
"Acho que há uma forte razão - todas as partes no conflito são muçulmanas. Estamos a viver um momento muito importante no calendário muçulmano. Acho que este é o momento certo para um cessar-fogo. Este cessar-fogo é absolutamente crucial no momento atual. Estamos em contacto com as partes, acreditamos que seja possível, mas todos devem estar unidos para fazer pressão para que o cessar-fogo ocorra efetivamente", avaliou.
Guterres assegurou que tem estado "pessoalmente empenhado" em fazer todos os possíveis para que as hostilidades cessem, apelando a um diálogo sério que permita uma transição bem-sucedida, "começando com a nomeação de um Governo civil".
O chefe das Nações Unidas manifestou ainda preocupação com o número de vítimas civis, com a situação humanitária e com a perspetiva de uma nova escalada do conflito.
"As Nações Unidas estão com o povo sudanês, em total apoio aos seus desejos de um futuro pacífico e seguro e um retorno à transição democrática", frisou.
Os confrontos armados entre o exército sudanês e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) começaram no sábado em Cartum e outros pontos do país.
Segundo o mais recente balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS), os confrontos já provocaram pelo menos 330 mortos e 3.200 feridos.
As hostilidades eclodiram no contexto de um aumento das tensões sobre a reforma do aparelho de segurança e a integração da força paramilitar nas Forças Armadas, parte fundamental de um acordo assinado em dezembro para formar um novo governo civil e reativar a transição.
O processo de conversações começou com mediação internacional após o chefe do Exército e presidente do Conselho Soberano de Transição, Abdel Fattah al-Burhan, liderar um golpe em outubro de 2021, que derrubou o então primeiro-ministro de unidade, Abdalá Hamdok, nomeado para o cargo como resultado de contactos entre civis e militares após o motim de abril de 2019, que pôs fim a 30 anos do regime de Omar Hasan al-Bashir.