Na sua visita à Hungria e à Eslováquia o Papa Francisco repetiu os seus apelos à abertura aos outros, em especial aos mais desfavorecidos. Porventura prevendo que o Papa não iria trazer grandes novidades, alguns órgãos de comunicação social portugueses não cobriram esta visita papal. Não foi esse o caso da Renascença, claro, que noticiou amplamente essa visita.
Se naqueles países o Papa repetiu o seu conhecido discurso, a verdade é também que o fez em ambientes à partida pouco recetivos. Por exemplo, o Governo da Hungria não quer receber refugiados nem imigrantes.
O Papa louvou o apego religioso dos húngaros, mas advertiu que a Igreja não é uma fortaleza. Evocando a cruz, Francisco chamou a atenção para que ela não tem apenas uma dimensão vertical, tem igualmente uma dimensão horizontal – os braços da cruz, que devem levar os cristãos a abraçar os irmãos, a começar por aqueles que a sociedade considera “descartáveis”.
Durante um encontro com os representantes do conselho ecuménico das igrejas e algumas comunidades judaicas da Hungria, o Papa apelou à integração e à educação para a fraternidade. Lembrou o Papa que o "antissemitismo, que ainda serpenteia na Europa e não só, é um rastilho que deve ser apagado".
Logo no seu primeiro discurso público na Hungria disse o Papa: "Sempre que houve a tentação de absorver o outro, em vez de construir, destruiu-se; e o mesmo se verificou quando se quis colocá-lo num gueto, em vez de o integrar. Quantas vezes aconteceu isto na história! Devemos estar vigilantes e rezar para que não volte a suceder",
Na mais longa visita à Eslováquia o Papa Francisco não se limitou a lembrar o imperativo de acolher os marginalizados – foi ao seu encontro, deslocando-se a zonas urbanas muito pobres e degradadas onde vivem ciganos. Compreende-se a grata surpresa daqueles ciganos, nada habituados a que um ilustre visitante estrangeiro os vá visitar e conhecer.
Na viagem de avião de regresso a Roma o Papa falou com os jornalistas. Disse não compreender o ceticismo manifestado por algumas pessoas perante as vacinas contra a Covid-19 e salientou que a “humanidade tem uma história de amizade com as vacinas”.
Nessa conversa com os jornalistas foi por estes abordado o debate que decorre na Igreja americana, nomeadamente entre os bispos, sobre se estes devem, ou não, recusar dar a comunhão a políticos católicos que defendam publicamente o aborto. Entre estes políticos está Joe Biden.
O Papa voltou a condenar o aborto, uma vez que ele implica a destruição de uma vida humana. Mas quanto a recusar a comunhão a políticos católicos que aceitem o aborto, afirmou: “Olhando para a história da Igreja, podemos ver que sempre que os bispos não agem como pastores quando enfrentam um problema acabam por tomar posições políticas. Isto não é pastoral”.
Esclareceu ainda o Papa: “O que deve fazer um pastor? Ser pastor. Não é andar por aí a condenar. Devem ser pastores ao estilo de Deus, o que implica proximidade, compaixão e carinho. Um pastor que não sabe como agir ao estilo de Deus escorrega e acaba por entrar em muitas áreas que não são as do pastor”.
Em suma, uma dupla viagem do Papa cheia de motivos de interesse para os católicos e não só.