O bispo de Hinche, D. Jean Désinord, mostra-se preocupado com a insegurança no Haiti e apela aos líderes políticos para que garantam a lei e a segurança no país.
Em declarações à Fundação à Igreja que Sofre, na sequência do rapto de cinco padres e duas irmãs, ocorrido no início de abril, o prelado afirma que “os padres e as religiosas correm o risco de psicose”.
“Quem será o próximo? - perguntamo-nos. Serei eu ou um padre ou um irmão?”, questiona.
O sequestro dos religiosos acabou sem maiores consequências com a libertação dos últimos reféns no último dia de abril, mas o prelado indica que vivem “num medo constante”, referindo que o rapto das pessoas é apenas um exemplo da insegurança que grassa no país.
“No ano passado, um padre e uma religiosa foram raptados. Graças a Deus, ambos foram libertados mais tarde”, explica o bispo à Fundação AIS, acrescentando que “não há uma solução rápida ou fácil para o problema de tais raptos”.
Neste contexto, afirma D. Désinord, “a Igreja só pode apelar aos nossos líderes políticos para que garantam a lei e a ordem no país”.
Entre os sete elementos da Igreja Católica raptados em abril, havia dois cidadãos franceses e, por isso, a diplomacia francesa pôs-se logo a caminho, o que, no entender do prelado, pode ter contribuído para a solução do problema, salientando, no entanto, que havia um pedido de resgate de cerca de 840 mil euros.
De acordo com o bispo de Hinche, isto traduz uma estratégia criminosa cada vez mais comum no Haiti.
“É simplesmente uma maneira fácil de conseguir dinheiro… No entanto, pode haver também uma motivação política, pois a Igreja tem sido uma das vozes mais consistentes na denúncia da situação de caos em que se transformou o país, mergulhado numa profunda crise política e económica agravada por desastres naturais extremamente violentos”, afirma o prelado.
D. Jean Désinord sublinha que “a Igreja no Haiti tem uma missão profética. Tem de denunciar estas terríveis condições e, por isso, é bem possível que a Igreja seja um incómodo para alguns políticos”.
O Haiti, um dos países mais pobres do mundo, atravessa atualmente uma grande crise, tendo o Governo, em março, decretado o estado de emergência durante um mês, com vista a restaurar a autoridade do Estado em algumas áreas que estão praticamente sob controlo de gangues, inclusivamente na região da capital, Port-au-Prince.
Segundo o bispo de Hinche, a própria classe política está mergulhada nesta crise.
“Toda a gente sabe que os nossos políticos usam gangues criminosos para controlar certas áreas. A fronteira entre o crime organizado e a política é bastante fluida”, denuncia o prelado à AIS, agradecendo também a ajuda que a fundação tem dado ao povo haitiano.
Desde há anos que a Fundação AIS está a ajudar a Igreja do Haiti, na sua missão pastoral e humanitária. Em 2020, por exemplo, apoiou mais de 30 projetos diferentes, num valor superior a 550 mil euros.