O Fundo Monetário Internacional mantem a previsão de crescimento mundial de 6% este ano e reviu de 4,4% para 4,9% a projeção 2022, mas avisa que os países mais pobres estão a ficar para trás.
Na atualização do World Economic Outlook, esta terça-feira, foi revisto em alta o crescimento nos países onde a vacinação está mais adiantada. Ou seja, nas economias avançadas, como os Estados Unidos e a Zona Euro, que se destacam assim, ainda mais, das economias emergentes.
As estatísticas são claras, “perto de 40% da população nas economias avançadas foi completamente vacinada, comparando com um valor que é menos de metade disso nas economias emergentes e uma pequena fração nos países de baixo rendimento”, justifica o fundo.
Duas metades de uma laranja
O FMI antecipa que o pós-pandemia vai agravar ainda mais as divergências. A economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, sublinha que, apesar da previsão mundial ser a mesma, a “composição [do crescimento] mudou”. Nas economias avançadas há uma revisão em alta do PIB de 0,5 pontos percentuais, enquanto as restantes sofreram uma revisão em baixa da mesma dimensão, mais pronunciada nos países asiáticos emergentes.
O documento separa o mundo em duas partes, como se abrisse uma laranja. “O acesso a vacinas é a principal linha divisória ao longo da qual a retoma global se separa em dois blocos: aqueles que podem esperar mais normalização na atividade no final deste ano (quase todos os países avançados) e aqueles que ainda enfrentam perspetivas de ressurgimento nas infeções e uma subida do número de mortes por Covid”.
A separar estas metades está ainda o apoio económico. As economias avançadas contam com 4,6 biliões de dólares em 2021 e anos seguintes, enquanto nos restantes países muitas medidas expiraram em 2020.
A Zona euro está na metade boa da laranja. Não há números para Portugal, mas o PIB da Zona Euro deverá crescer 4,6% em 2021 e 4,3% em 2022, mais duas décimas e cinco décimas, respetivamente, face ao anterior relatório.
Itália destaca-se, com uma forte revisão em alta do crescimento, este ano e no próximo. A Alemanha deverá crescer ainda mais em 2022 e França mantem as previsões anteriores. Em Espanha a correção é em baixa, para este ano, mas depois é compensada com mais crescimento em 2022.
Os Estados Unidos deverão crescer 7% este ano, mais seis décimas do que o previsto anteriormente, e 4,9% no próximo, mais 1,4 pontos percentuais. A economia está a beneficiar dos estímulos orçamentais adicionais da administração Biden, além da melhoria da situação epidemiológica no país.
O impacto da pandemia
A pandemia terá reduzido o rendimento per capita nas economias avançadas em cerca de 2,8%, em comparação ao que seria a tendência pré-pandemia entre 2020 e 2022.
Já nas restantes economias, é estimada uma perda do rendimento per capita de 6,3%, excluindo a China.
Mas “a recuperação não está assegurada, mesmo nos países onde as infeções estão atualmente muito baixas, enquanto o vírus circular em todo o lado”, avisa o FMI.
O Fundo lembra o efeito da variante Delta e aconselha prudência, perante a possibilidade de existirem outras variantes que combatam a vacina.
Os riscos
A incerteza sobre o desfecho do processo de vacinação é sempre um risco a ter em conta, na recuperação das economias. No entanto, o FMI afasta preocupações com a inflação, reconhece pressões nos preços, mas diz que refletem desenvolvimentos relacionados com a pandemia, que são transitórios. “Espera-se que a inflação volte aos intervalos pré-pandemia na maioria dos países em 2022”, assim que os fatores se dissipem.
Aos bancos centrais, o FMI recomenda “uma comunicação clara sobre as perspetivas da política monetária será crucial para moldar as expectativas e salvaguardar contra um aperto prematuro das condições financeira”. Devem estar prontos para uma ação mais preventiva, caso as pressões transitórias sobre os preços se tornem mais persistentes.