As pressões sobre a família de Alexei Navalny para que evite realizar um funeral público revelam mais “brutalidade e cinismo” do que um eventual receio de Vladimir Putin em ver aumentar a insatisfação da sociedade russa em ano de eleições.
A tese é defendida por Olivier Bonamici, que não hesita em afirmar que o Presidente da Federação Russa utiliza métodos repressivos que são “um prolongamento de Lenine ou Estaline” para dizer aos descontentes com o regime que “é isto que vos espera se vocês estiverem contra mim”.
Quanto ao lugar de Navalny na história, o jornalista francês diz que isso será inevitável, “não agora, mas daqui a mais algum tempo”.
As possíveis ondas de choque motivadas pela morte de Alexei Navalny, que o Kremlin continua a atribuir a causas naturais, mereceram, também, a leitura de Begoña Iñiguez, que considera que este é só mais um episódio que confirma que “não podemos confiar [na versão de Moscovo], porque sabemos que já tentaram assassinar o Navalny anteriormente”.
Por outro lado, a comentadora espanhola considera que o calendário político russo atravessa um período de particular simbolismo, numa altura em que “Putin está a tentar ganhar terreno na Ucrânia” e procura “reforçar o seu poder e a sua imagem de potência internacional”, a poucas semanas das eleições presidenciais que, sem surpresa, deverão culminar com a recondução do atual Chefe do Estado russo.
O caso Navalny coincide com os dois anos da guerra na Ucrânia e, para Olivier Bonamici, o conflito “está numa fase complicada. Isto é, para Ucrânia, a chamada contraofensiva nunca aconteceu”, o que faz com que “os europeus pensem que vai ser complicado a Ucrânia”.
A indefinição, a par com um certo cansaço das opiniões públicas europeias, deixa os dirigentes “perante um dilema: eles dizem que, por um lado, a Rússia não deve ganhar. Mas a opinião pública não acredita que a Ucrânia consiga ganhar a guerra”.
Em debate neste Visto de Fora, também o anúncio de Ursula von der Leyen de que irá candidatar-se a um segundo mandato na Comissão Europeia.
Questionados sobre se a atual presidente do executivo de Bruxelas é a pessoa indicada para os desafios que a Europa enfrenta – com eleições europeias em junho, a indefinição sobre o futuro político nos Estados Unidos e a guerra ainda sem fim à vista no Leste – os dois comentadores concordam que von der Leyen teve momentos difíceis ao longo do seu mandato e que, perante a complexidade de desafios tão exigentes como a pandemia, ou a guerra, a presidente da Comissão não teve um desempenho excelente, mas teve a prestação possível.
“Se fossemos professores, Ursula von der Leyen teria um Bom ou um Suficiente”, classifica Begoña Iñiguez.
Na atualidade política, destaque para o debate entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos e para as declarações do líder socialista que, num primeiro momento, disse que viabilizaria um governo minoritário da AD, para, no dia seguinte, manter o que disse, embora dizendo que se sentia desobrigado desse compromisso, por não ter visto o mesmo compromisso assumido por parte de Luís Montenegro.
Para os dois comentadores do Visto de Fora, um e outro candidato estiveram bem, embora este episódio tenha revelado o quão táticas podem ser as afirmações em contexto de campanha, sobretudo quando se procura não esvaziar a decisão dos eleitores.