- Em directo. Eleições nos EUA
- Especial Eleições nos EUA. Todas as notícias, vídeos e acompanhamento ao minuto
- Quem é Donald Trump, o novo Presidente dos EUA
- Hillary Clinton, a política experiente que ficou às portas da Casa Branca
É o tema que ocupa todas as conversas e esta já estava marcada há muito para a Web Summit, em Lisboa. Discutir os resultados das eleições norte-americanas, no dia seguinte. Mas o ângulo mudou. Ninguém estaria à espera de debater uma vitória de Trump. E os oradores revelaram-no: “Era mais fácil falar de uma vitória de Hillary”.
Ainda em choque, o moderador do painel David Patrikarakos, do site Daily Beast, lançou a provocação. “Devíamos começar a discutir onde vamos encontrar comida e um abrigo nos próximos anos”.
Antes disto, na apresentação desta conferência, Paddy Cosgrave falou na escuridão que os acontecimentos desta madrugada nos EUA podem gerar e ordenou para as luzes do Meo Arena se desligarem. Depois, pediu que todos ligassem as luzes dos telemóveis e anunciou que a escuridão não dura para sempre.
O ambiente de consternação era evidente, mas passou-se rapidamente para as explicações. Shailene Woodley, do Up to US (plataforma de mobilização política), diz que as pessoas nos Estados Unidos “estão fartas de um sistema de dois partidos. Conheço democratas que votaram no Trump”, explica.
Shailine está preocupada com o que vê nas pessoas e com o que elas escrevem nas redes sociais. “Há tanto medo agora. Mas temos de tomar pulso a realidade. Não podemos deixar crescer o medo, em detrimento do progresso, porque esse momento é que ele se torna real”, sublinha.
As redes sociais são apontadas como uma das causas para a vitória de Donald Trump, mas Owen Jones, jornalista do jornal britânico “The Guardian”, diz que estas são a consequência e não a causa. As sociedades estão polarizadas tanto nos EUA como em Inglaterra e isso reflecte-se na internet.
“Houve milhões de pessoas que votaram Trump e não vão ao Twitter”, garante. De seguida, reconheceu que estas plataformas por nos devolverem os nossos gostos afunilam o nosso pensamento.
Trump também é a América
Um dos slogans de campanha de Trump foi “fazer a América grande outra vez”. David Patrikarakos, o moderador, fez uma pergunta ao painel. “O fenómeno Trump não fez a América ser grande outra vez, pois não?”
Bradley Tusk, da Tusk Holdings (assessoria política), não podia ter sido mais liminar: “99% dos americanos não querem saber o que tu pensas. Eu e a Shailine sim, mas 99% não quer saber”, garantiu.
Owen Jones olha para os norte-americanos e faz uma caricatura. “Ora bem, temos um misógino, racista e xenófobo. Exacto, vamos fazer dele Presidente”, ilustra.
Depois de eleger um negro, os Estado Unidos estiveram à beira de pôr na Casa Branca a primeira mulher. Mas, em vez disso, o moderador do debate diz que agora vão ter talvez o maior misógino de sempre no lugar. Poderá pôr em risco o movimento feminista?
Shailune discorda. “O feminismo é um movimento, não é uma pessoa, está no terreno”. O Meo Arena irrompeu em aplausos. “Hillary seria uma oportunidade de inspirar mais pessoas, mas vai inspirar mais ainda a acordar e que para que temos de fazer mais agora”, sublinha.
Noutra dimensão, a das relações com o mundo, Bradley Tusk defende que Trump não é estúpido e ele também é a América. Diz que ficou embaraçado com os resultados, que teve vontade de chorar. "Vamos sobreviver”, acredita, ainda assim.
Owen Jones lembra que Trump perguntou por que razão os EUA não usavam bombas e que o candidato republicano disse querer rasgar os acordos comerciais. O jornalista crê que, se o tentarem bloquear no Senado e no Congresso, o Presidente eleito vai mobilizar a rua em seu favor. “As coisas não ficarão melhores”, reforça.
Mas Owen relembra no fim da conferência que há este EUA que elegeram Trump, mas também há um país que elevou o “movimento sufragista, as lutas LGBT, os trabalhistas”. “Há outro EUA. É por esse que temos de puxar”, rematou.