O bispo do Porto, D. Manuel Linda, admite que não foi “feliz” no que disse em recentes declarações sobra a questão dos abusos de menores na Igreja e pede “perdão” às vítimas
Numa nota à diocese, D. Manuel Linda admite que errou quando disse que o abuso de menores não era “crime público”. Diz que sofre e deplora o “flagelo dos crimes de natureza sexual” e garante que tudo fará “para lhes pôr cobro”.
“Nas últimas semanas fui objeto de várias notícias e comentários. Isso conduziu-me a um período de silêncio, reflexão e discernimento”, começa por afirmar o bispo do Porto, na Nota Episcopal que divulgou esta terça-feira, por “respeito” aos cristãos da diocese, que dele “esperam uma palavra”.
D. Manuel Linda admite que quando, no início do mês, foi abordado por uma jornalista sobre “a obrigatoriedade, ou não, de denúncia dos casos de abuso sexual de menores”, na resposta que deu deixou dúvidas quanto à noção de crime público. “Pois bem: assumo que não fui feliz na expressão e que, porventura, tornei incompreensível o meu próprio pensamento. E disso peço desculpa a todos e perdão às vítimas que, possivelmente, se sentiram feridas”, escreve.
O bispo lamenta que a situação tenha causado “uma busca de pronunciamentos” seus, mais antigos, relacionados com a temática dos abusos – como quando usou a expressão “queda de um meteorito”, a propósito da criação de Comissões Diocesanas para a receção das denúncias de abuso. “Algo ingenuamente, estava convencido que as estruturas existentes na Diocese, e eu próprio, seríamos suficientes para receber e tratar os casos que viessem a surgir”, escreve D. Manuel Linda, acrescentando que “quando essas Comissões se tornaram obrigatórias, criei nesta Diocese uma das primeiras em Portugal”.
O bispo do Porto diz que a realidade “é muito mais sombria e dolorosa” do que pensava, mas faz questão de sublinhar o seu empenho e compromisso na luta contra os abusos. “Fique muito claro que sofro e deploro liminarmente esse flagelo dos crimes de natureza sexual cometidos contra menores ou pessoas vulneráveis. E que tudo farei para lhes pôr cobro”.
“A “tolerância zero” que o Papa Francisco declarou para toda a Igreja é a que desejo igualmente na nossa Diocese”, escreve ainda, deixando um apelo aos cristãos para que participem no programa formativo sobre o tema “Comunidades seguras e sãs”, que está previsto para dezembro na diocese, no qual “serão produzidos materiais didáticos a serem distribuídos pelas comunidades e a todas as pessoas que lidam com crianças, jovens e adultos vulneráveis”.
“Sejamos muito ativos neste compromisso em “cuidar” melhor, e não percamos a esperança!”, acrescenta o bispo do Porto.