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A esperança na hidroxicloroquina como medicamento para tratar a Covid-19 está a cair por terra. Mas independentemente da sua eficácia, pelo menos, em Portugal, não há registo de doentes em que a sua aplicação tenha tido efeitos adversos.
"A utilização destes fármacos é feita de acordo com os protocolos de utilização e monitorização da sua eficácia e toxicidade, não havendo até agora, em Portugal, registo de nenhum caso de efeitos adversos significativos", diz à Renascença o pneumologista Filipe Froes.
O médico sublinha que "a hidroxicloroquina continua a ser usada, mantêm-se nas recomendações da Direção Geral de Saúde, mas no âmbito de monitorização de eficácia clínica e de efeitos adversos. Ainda é usada nalguns centros, com os doentes submetidos a eletrocardiogramas e monitorização da toxicidade cardíaca".
O coordenador da Comissão de Trabalho de Infecciologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e do gabinete de crise da Ordem dos Médicos para o novo coronavírus reconhece que é difícil avaliar os resultados práticos da aplicação da hidroxicloroquina, "porque não temos, neste momento, a decorrer nenhum estudo comparativo em que possamos avaliar a eficácia da sua aplicação com outro fármaco comparador, ou mesmo sem hidroxicloroquina. Não estamos a fazer esses ensaios controlados", diz.
O fim de um mito?
Mas afinal o que está a falhar no fármaco que alguns estudos evidenciavam poder ser "milagroso" no combate ao novo coronavírus?
Filipe Froes esclarece que "são evidências que muitas vezes não são em humanos, mas sim 'in vitro', em animais ou em células, muitas vezes com amostras muito limitadas, sem grupo comparador para controlo e, portanto, têm que ser interpretadas com muita prudência".
Na verdade, "as grandes expectativas que foram lançadas com a hidroxicloroquina infelizmente não se confirmaram nalguns outros estudos e, no fundo, estamos a voltar à metodologia clássica". Tal significa que "os doentes têm de ser sujeitos a novas experiências, de forma a que toxicidade desses fármacos não ponha em causa os resultados".
Em entrevista à Renascença, a diretora do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa já tinha sublinhado que "todas as evidências parecem mostrar que a hidroxicloroquina não vai ser o fármaco que todos nós adoraríamos que fosse". Maria Manuel Mota, convidada do programa "Da Capa à Contracapa", explicou que "quando temos o SARS-CoV-2 nas células e aí colocamos cloroquina, ela tem um efeito na carga viral das células".
"Portanto começou-se a pensar que isto podia acontecer. No entanto, infelizmente, as evidências científicas são cada vez mais no sentido de que isto tem um efeito muito marginal nas pessoas com Covid-19", assinala.
A discussão sobre os efeitos da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 ganhou novo fôlego, depois de Rick Bright ter dito que Donald Trump o afastou do cargo de diretor da agência de vacinação dos Estados Unidos por não ter cedido ao uso da substância, a que o Presidente norte-americano atribuía potencial para combater o novo coronavírus.
Bright explicou que o seu afastamento "foi uma reação à insistência de que o Governo invista os milhares de milhões de dólares alocados pelo Congresso para enfrentar a pandemia de Covid-19 em soluções cientificamente comprovadas e não em medicamentos, vacinas ou outras tecnologias que não tenham mérito científico".
"Estou a falar agora porque se queremos combater este vírus mortal tem de ser a ciência – e não a política ou o o clientelismo – a liderar”, afirmou o diretor demissionário da agência de vacinação dos EUA.
Remdesivir marca pontos
Já no caso do remdesivir a situação é um pouco mais vantajosa neste momento, esclarece Filipe Froes.
"Já existe um estudo publicado numa das principais revistas [científicas]. Apesar de conter muitas falhas metodológicas, esse estudo revela alguns dados que interessa realçar, nomeadamente a melhor resposta dos doentes."
Em resumo, trata-se de um estudo que também não tem grupo comparador, mas aponta para melhores resultados do que outros que foram feitos e que não sugerem benefícios.
O remdesivir é um antiviral intravenoso de largo espectro, ainda em fase de testes, criado pela farmacêutica norte-americana Gilead Sciences em 2014, como potencial tratamento para o ébola. A 28 de março, o a autoridade do medicamento em Portugal (Infarmed) confirmou à Renascença que, à data, já tinha autorizado três pedidos para usar o medicamento experimental em infetados com Covid-19.
Sendo experimental, segundo a própria Gilead, o remdesivir “não tem segurança ou eficácia confirmada para o tratamento de nenhuma doença”, mas os testes “in vitro” e “in vivo” em animais mostram bons resultados contra a MERS e SARS, ambas da família dos coronavírus e, por isso, acredita-se que poderá ter “potencial” contra a Covid-19.