"O que recordo é o grande actor, em todos os aspectos da arte de representar, na tragédia, na comédia, no drama, que foi o Nicolau.
Esteve sempre bem-disposto e capaz de encarar todos os desafios. Fez tudo o que tinha para fazer. Foi realizador de televisão, de cinema, foi um homem com múltiplas actividades. Tinha uma ideia muito curiosa sobre o nosso trabalho, dizia que isto era um ofício. Fez da vida um ofício de representar e sobretudo de comunicar.
Estou em estado de choque, o Nicolau estava na minha lista, nem é dos inesquecíveis, é dos imperecíveis. Não estava na lista das pessoas que podiam desaparecer. Podíamos contar com tudo, menos com o seu desaparecimento.
Recuando todas as vezes que tive com ele, aquilo que me lembrei ainda há pouco, foi o primeiro convívio que tive enquanto actor acabado de chegar aos teatros. Cruzava-me com ele no ginásio Hércules, talvez o primeiro ginásio onde se praticava bodybuilding, na zona da Avenida de Roma. Ele ia para lá para emagrecer e eu para engordar.
Devo dizer que era uma pessoa com uma enorme honestidade moral e dedicação. Estou com alguma dificuldade em articular mais do que isto.
É incrível que estas coisas aconteçam. Não é só a notícia que não queremos ouvir, é a notícia que nós nunca imaginamos que iremos ouvir."
Esta é a transcrição de um comentário feito por Júlio Isidro à Renascença, de reacção à notícia da morte de Nicolau Breyner.