O Papa Francisco avisa que o mundo está a viver uma III Guerra Mundial "aos bocadinhos", lembrando que durante anos se têm registado "guerras selvagens de destruição", como a que vitima a Ucrânia.
"Há anos que vivemos a Terceira Guerra Mundial aos bocadinhos, em capítulos, com guerras por todo o lado, embora a guerra na Ucrânia "nos toque mais de perto", sublinhou numa entrevista em língua espanhola à plataforma de streaming ViX da "Noticias Univision 24/7".
O Papa falou sobre a pandemia de Covid-19, a guerra na Europa, escândalos de abuso de crianças na Igreja Católica, aborto, sem se esquivar também a responder a perguntas sobre a sua saúde e rumores de uma possível renúncia.
O sumo pontífice, de 85 anos, falou desde o drama no Iémen e na Síria, à vida encurtada de 30 mil soldados, até aos jovens que morreram no desembarque nas praias da Normandia e aos conflitos bélicos "que são impostos" e que mostram se perdeu "a consciência da guerra".
E, ainda assim, apesar das tragédias, "a humanidade continua a fabricar armas", lamentou, acrescentando que a guerra "escraviza", desumaniza, e que, segundo o catecismo católico, "a utilização e posse de armas nucleares é imoral".
Sobre a invasão russa da Ucrânia, Francisco disse que prefere falar mais sobre as vítimas do que dos agressores, "do país que é atacado".
Reforma dedicada às condições e à caridade
Sobre os rumores relacionados com o seu estado de saúde e uma possível demissão, foi claro: "Não tenho qualquer intenção de me demitir. De momento, não", afirmou na entrevista de mais de duas horas, transmitida na TelevisaUnivision.
O líder da Igreja Católica reconheceu que sempre pensou que o seu tempo no Vaticano seria breve, mas que sem dar por isso "já passaram nove anos", disse o pontífice. "Se eu vir que não posso, ou que estou a sofrer ou que sou um obstáculo", espero "ajuda" para tomar a decisão de me reformar, disse. E manifestou a sua "grande simpatia" pela "bondade" do Papa Bento XVI, que renunciou em 2013, e leva uma vida, adiantou, de retiro, leitura, estudo e escrita, aos 95 anos.
Francisco revelou que, quando chegar o dia da sua reforma, preferiria ser considerado um simples bispo emérito de Roma do que Papa emérito e dedicar o seu tempo à confissão dos fiéis e à prática da caridade e à visita aos doentes em alguma paróquia italiana.
"Se sobreviver depois de renunciar, gostaria de fazer algo deste tipo: confessar e ir ver os doentes", frisou.
Abusos e aborto não foram esquecidos
Por outro lado, voltou a afirmar, de forma contundente, a sua condenação do aborto, defendendo que há "dados científicos" que provam que, "um mês após a conceção, o ADN do feto já está presente e os órgãos estão alinhados, há vida humana".
Por isso, questionou, "será correto eliminar uma vida humana?".
Quanto à posição favorável do Presidente norte-americano, Joe Biden, católico, sobre a proteção do direito ao aborto, Francis salientou que "deixa isso" à sua "consciência". E acrescentou: "Deixe-o falar com o seu pastor sobre esta incoerência".
Sobre os escândalos de abuso sexual infantil, garantiu que "hoje em dia a Igreja tornou-se cada vez mais consciente". E prometeu: "Não vamos ser cúmplices" nestes crimes.