O chefe dos rebeldes Houthis apelou à "resistência", após o falhanço das negociações de paz sobre a guerra no Iémen, sob a égide da ONU, quando a situação no terreno permanece sem solução.
“A nossa escolha é a da determinação e da resistência face à agressão", declarou Abdel Malek al-Houthi, num discurso transmitido pela cadeia televisiva rebelde al-Masirah.
Este apelo surgiu algumas horas após o reconhecimento do fracasso das conversações em Genebra pelo enviado especial das Nações Unidas, Martin Griffiths, que lamentou a ausência da delegação dos rebeldes Houthis.
"Não conseguimos que a delegação de Sanaa [dos rebeldes Houthis] comparecesse aqui. Simplesmente, não tivemos sucesso", lamentou aos media o diplomata de nacionalidade britânica.
"É muito cedo para dizer quando poderão ocorrer as próximas consultas", disse Griffiths, o terceiro mediador responsável pelo complexo 'dossier' iemenita.
O ministro iemenita dos Negócios Estrangeiros, Khaled Al Yemani, fustigou a atitude "totalmente irresponsável" dos Houthis, e acusou-os de "falta de seriedade no caminho para a paz".
O ministro do governo instalado no sul do país árabe também criticou o enviado especial da ONU, "que desculpou a ausência" dos rebeldes. "A ausência de pressão [sobre os Houthis] encorajou-os (...) a considerar com desdém os esforços efetuados".
"Estamos descontentes com as declarações (..) de Griffiths, mas apoiamos totalmente os seus esforços e continuaremos a fazê-lo", prosseguiu Khaled Al Yemani.
Ao exortar os iemenitas para "se deslocaram hoje para todas as frentes", Abdel Malek al-Houthi apelou aos seus apoiantes para reforçarem "a defesa, a segurança" e "recrutarem (...) voluntários no terreno".
O líder rebelde defendeu ainda a decisão da delegação iemenita de anular a deslocação a Genebra, ao referir que a delegação governamental não tem o poder "de tomar as suas próprias decisões", numa alusão ao apoio da Arábia Saudita, que lidera uma coligação militar em apoio ao governo face aos rebeldes.
"Como poderia deslocar-se a Genebra e promover negociações sobre questões decisivas", questionou, ao definir os membros do governo iemenita de "traidores" e "mercenários".
As discussões de Genebra, que deveriam iniciar-se na quinta-feira, seriam as primeiras desde o falhanço, em 2016, de um longo processo de paz destinado a terminar com um conflito que arrastou o Iémen para a pior crise humanitária do mundo.
As duas partes continuam a insistir nas suas posições. A coligação militar dirigida pelos sauditas e os seus protegidos iemenitas exigem o respeito pela resolução 2216 do Conselho de Segurança da ONU que reconhece "a legitimidade" do presidente Abd Rabbo Mansour Hadi e exigem a retirada dos Houthis dos territórios que conquistaram e a entrega das armas pesadas.
Os Houthis pedem, por sua vez, o "fim da agressão" da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos antes de qualquer concessão.
A guerra neste país muito pobre da península arábia já provocou mais de 10.000 mortos desde o início da intervenção da coligação militar liderada pelos sauditas, em março de 2015.