Fátima foi o destino turístico nacional mais afetado pela pandemia de Covid-19 e pelo confinamento. Muito dependente dos mercados internacionais, acabaram por ser os portugueses a ajudar – ainda que com incentivos da Câmara de Ourém – à sobrevivência da economia local, muito assente no turismo religioso.
2022 já foi de recuperação, embora não ao nível do resto do país. Este ano, com a Jornada Mundial da Juventude e a vinda do Papa Francisco, mas sobretudo como regresso dos turistas e peregrinos de mercados longínquo, reina o otimismo.
À Renascença, no decorrer da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa - o CEO do Grupo Hotéis de Fátima, Alexandre Marto Pereira, diz que há boas razões para acreditar que a recuperação vai ser "total", atingindo ou superando os níveis de 2019.
Uma Jornada Mundial da Juventude com impacto a longo prazo
A Jornada Mundial da Juventude decorre em Lisboa e Loures de 1 a 6 de agosto, mas tanto os jovens como as famílias, as comitivas eclesiásticas e outras pessoas vão chegar antes e em muitas casos, prolongar a estadia. Não apenas em Lisboa ou Fátima, que também vai receber a visita do Papa Francisco, mas pelo resto do país.
“Marginalmente, as reservas para a hotelaria estão a confirmar-se. Lisboa e Fátima ficarão completas nas últimas semanas de julho e até meio de agosto”, diz Alexandre Marto Pereira, presidente executivo do Grupo Hotéis de Fátima, que inclui uma dezena de unidades hoteleiras.
No entanto, o hoteleiro considera que o maior impacto da JMJ 2023 para o turismo português será a longo prazo. “Está demonstrado com o que aconteceu noutros países. Os jovens vão conhecer o destino, gostam e voltarão daqui a uns anos, com as famílias. É um impacto local e nacional”.
Reservas internacionais estão a concretizar-se
Para Alexandre Marto Pereira, a Jornada Mundial da Juventude representa apenas uma parte da recuperação da hotelaria e do turismo de Fátima. Explica que, pela sua natureza, a reservas no âmbito do turismo religioso levam mais tempo a concretizar-se, o que fez com que a Região Centro e especialmente este destino, não tivesse tido resultados tão bons como o resto do país.
“O tempo de decisão para viajar de um casal ou mesmo de uma família é muito mais curto do que o necessário para uma paróquia que quer organizar uma peregrinação. Tomar a decisão num contexto pós-pandemia, anunciar, conseguir a confirmação de dezenas de pessoas, tudo isso leva muito tempo, meses ou até um ano, especialmente se se tratar de um mercado de longa distância. Este delay fez com que Fátima se tivesse atrasado na recuperação em relação à média do país, mas este ano vai recuperar”, afirma com confiança.
Sazonalidade volta a esbater-se com o regresso dos turistas asiáticos e americanos
As peregrinações aniversárias, entre maio e outubro, são os momentos em que mais gente se junta em Fátima. “No entanto, a hotelaria e a economia local têm de sobreviver 365 dias/ano.”
Apesar de ainda existir sazonalidade, Marto Pereira refere que já antes da pandemia estava a esbater-se e deverá continuar agora. “Uma parte dos mercados mais longínquos – asiáticos e da América do Sul – por vezes procuram o destino em contraciclo porque têm o verão quando nós temos o inverno e vice-versa. Têm férias quando nos trabalhamos e é nessa altura que viajam”.
O hoteleiro refere que “a Ásia está a regressar com grande intensidade, assim como a América do Sul, nomeadamente o Brasil. Em relação à Coreia do Sul, não acredito que este ano se atinjam as 100 mil noites de 2019, mas podem recuperar-se 60-70% porque os peregrinos estão a voltar com muita força”.
Por outro lado, do mercado norte-americano há uma procura “cada vez mais vibrante, há uma recuperação muito efusiva”. Alexandre Marto Pereira frisa que sempre foi parte essencial da procura por Fátima desde os anos 80, quase ao nível do Brasil.
Há ainda que contar com os mercados europeus, como Espanha e a Polónia e, obviamente, o nacional, que cresceu muito nos últimos dois anos. “Vamos ver se dá para efetivamente fidelizar mas os portugueses já prolongam mais a estadia em Fátima, o que não acontecia antes".
Pensando além do ano de 2023, Marto Pereira considera que a médio prazo, a conquista de novos mercados continuará a ser feita na Ásia e a longo prazo, em África onde o catolicismo continua a crescer.