A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) avisa que a crise na habitação e a necessidade de mais famílias voltarem a partilhar casa poderá fazer aumentar os casos de violência sobre os mais velhos. Neste Dia de Sensibilização sobre a Prevenção da Violência Contra as Pessoas Idosas, Marta Carmo, gestora do projeto "Portugal mais velho", da APAV, explica que “estas crises têm uma tendência para fazer aumentar os níveis de violência”. “A coabitação é um fator de risco. Nós podemos e devemos estar preparados para para esse fato”, avisa.
Marta Carmo concretiza que “a atual situação económica, em particular a questão das dificuldades de habitação, podem vir, obviamente, a fazer com que as famílias tenham de se reunir novamente. E isso pode, também, trazer alguns conflitos familiares que, em conjunção com outros fatores, podem resultar em violência, porque isso também já foi aquilo que observámos em crises passadas”.
Um fenómeno que ainda não transparece nos últimos dados da APAV. No ano passado diminuiu ligeiramente o número de crimes contra idosos, nomeadamente casos de violência acompanhados pela associação.
“No ano de 2022, a APAV apoiou um total de 1.528 pessoas idosas vítimas de crime ou de violência, o que dá uma média de quatro idosos apoiadas por dia. Em relação ao ano anterior, este número representa um ligeiro decréscimo. Em 2021, o total de vítimas idosas apoiadas pela APAV foi de 1.594. Isto demonstra uma tendência, nos últimos anos, de ligeiros aumentos e decréscimos”
Por sua vez, dados de “um relatório estatístico de 2021” revelam que “a maior parte dos crimes de que as pessoas idosas são vítimas e que procuram a APAV são, efetivamente, crimes de violência doméstica. Em quase 30% das situações são filhos ou filhas que agridem os seus pais. Cerca de 20% das situações é de violência entre cônjuges”, descreve a responsável da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.
Números que, admite Marta Carmo, não incluem uma elevada percentagem de casos que nunca são denunciados. “A Organização Mundial da Saúde já chegou a dizer que calculava que cerca de 80% das situações de violência contra pessoas idosas nunca chega a ser reportada. Tratando-se de cifras negras, não temos como saber”, lamenta.