Numa altura em que está em fim de mandato, o governador do Banco de Portugal Carlos Costa lança o nome do ministro das Finanças, Mário Centeno, para o cargo num futuro próximo, numa entrevista ao semanário Expresso. Carlos Costa pensa que Centeno tem todas as condições para ser um grande governador do Banco de Portugal.
Segundo o Expresso, Carlos Costa dá gás à possibilidade — que o próprio Centeno não exclui — de o atual ministro das Finanças o substituir naquele cargo já em julho.
Na mesma entrevista, Carlos Costa autoelogia o trabalho que fez, e diz que Centeno tem meio caminho andado para o sucesso. “Vai receber uma máquina que está rejuvenescida, com muito maiores competências, com uma estruturação muito forte, com um sentido de missão e um foco muito claro.”
Recorde-se que é publico que Carlos Costa e Mário Centeno têm uma relação tensa. A mesma nasceu durante o primeiro mandato de Carlos Costa na instituição, no qual, Centeno (na época um alto quadro do BdP) candidatou-se a diretor do departamento de Estudos Económicos. Acabou chumbado por um júri, e a decisão foi validada pelo governador.
Carlos Costa recorda o caso, mas não lhe dá muita importância. “Tínhamos grandes candidatos e todos eles foram devidamente valorizados na sua componente científica e académica. Não foram capazes de demonstrar as qualidades que se pretendiam em matéria de gestão de pessoas. Dito isto, o professor Mário Centeno foi convidado por mim, depois desse concurso, para ser assessor ou consultor do governador e nessa qualidade recebeu um mandato para promover uma conferência internacional. Isto demonstra que não houve qualquer corte de relações ou qualquer menorização da capacidade científica e técnica do professor Mário Centeno, pelo contrário houve uma valorização.”
Em relação a uma possível incompatibilidade de Centeno para o cargo, por o ministro das Finanças poder transitar diretamente do ministério para governador do Banco de Portugal, também mereceu um comentário de Costa: “Isso é uma questão sobre a qual eu não me posso pronunciar de maneira nenhuma, porque cabe aos agentes políticos saber o que é que consideram incompatível ou não.”
Este “não é o caso” de uma “incompatibilidade factual”, reconhece Carlos Costa, mas sem afastar a questão da independência do próximo governador face ao poder político.
“Depende da forma como a pessoa interpreta o mandato que lhe está atribuído. Não é uma questão genética, é uma questão de compreensão do mandato e também de atitude”, qualifica o atual líder do banco central.
Sobre a mais recente crise política motivada pela transferência de 850 milhões de euros para o Novo Banco, o atual governador valida a decisão de Centeno.
“Eu estou convencido que o presidente do Fundo de Resolução, que é jurista, conhece muito bem o contrato e conhece bem as obrigações que resultam do contrato. Se houvesse alguma forma de minimizar os custos para o Fundo de Resolução ele certamente teria estado muito atento. Aliás, como fez quando deduziu €2 milhões mostra que esteve atento e deduziu aquilo que não era devido”, remata.