O bastonário da Ordem dos Médicos manifestou, este domingo, receio de que as 991 vagas abertas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) para médicos recém-especialistas fiquem por preencher e exigiu ao Ministério da Saúde a criação de melhores condições.
Em declarações à Lusa, Carlos Cortes reconheceu que o anúncio feito no sábado pela Direção Executiva do SNS para a abertura de quase mil vagas para recrutamento (logo após a homologação da classificação do internato médico) é um dado "importante e positivo", mas realçou que é preciso ir além da criação de vagas e dar respostas às necessidades do SNS e dos seus profissionais.
"Há que criar condições de trabalho adequadas, assim como de formação e de projetos de investigação para se poder desenvolver [o SNS]. O Ministério da Saúde não tem feito o seu trabalho nessa matéria e tem sido inconsequente em dar capacidade de atração ao SNS. Há um problema de organização de todo o SNS para atrair mais profissionais", observou.
Segundo o bastonário, a Ordem dos Médicos "sempre entregou propostas para tornar o SNS mais atrativo", pelo que lamentou o que considerou ser "uma desatenção perigosa" do Ministério da Saúde.
"É pena que assim tenha sido. Esta abertura alargada de vagas poderia ter um desfecho diferente... Temos esta oportunidade, mas a falta de intervenção do ministro da Saúde nesta matéria não tem permitido que os médicos olhem para estas vagas numa perspetiva de carreira. E tudo indica que não serão preenchidas", disse.
Questionado sobre o peso que o recém-alcançado acordo intercalar entre o Ministério da Saúde e o Sindicato Independente dos Médicos para os aumentos salariais pode ter neste processo alargado de recrutamento, Carlos Cortes desvalorizou, ao alertar que as questões de remuneração são apenas um dos problemas para atrair e reter médicos no SNS.
Apesar das críticas e dos alertas, o bastonário da Ordem dos Médicos elogiou a "celeridade do processo" para a abertura de vagas, ao lembrar que em anos anteriores o Ministério da Saúde demorava vários meses a abrir concursos" e que muitos jovens médicos acabaram por desistir e rumavam aos hospitais privados, prejudicando dessa forma o SNS.
"Havia uma mensagem incorreta, porque não demonstrava interesse nos jovens médicos. Agora, o interesse do SNS é diferente e isto é inédito", indicou Carlos Cortes, enfatizando ainda a autonomia dada aos hospitais para este processo e a dimensão das vagas criadas.
A Direção Executiva do SNS autorizou este sábado a contratação de 991 médicos recém-especialistas para diferentes especialidades com apoio ao serviço de urgência e que concluíram o internato médico na época especial.
De acordo com as vagas fixadas na informação divulgada, a região do território continental a absorver mais profissionais é a de Lisboa e Vale do Tejo, com vagas para 384 médicos recém-especialistas, seguindo-se as regiões do Norte (282), Centro (196), Algarve (65) e Alentejo (64).