O mais longo corte de energia no Quénia permanece este domingo um mistério, com a empresa estatal de energia a atribuir a culpa a uma falha no maior parque eólico de África, que, por sua vez, responsabiliza a rede elétrica.
Quase 24 horas após o grande corte de energia ocorrido na noite de sexta-feira, alguns dos mais de 50 milhões de habitantes do Quénia - incluindo a capital, Nairobi - viram entretanto a energia regressar.
A situação causou embaraço a um país que tem procurado promover-se como um centro tecnológico no continente africano, mas continua a ser desafiado por alegada má gestão e por infraestruturas deficientes.
Na sequência do "apagão", centenas de pessoas ficaram bloqueadas na escuridão, durante horas, no principal aeroporto internacional do Quénia, em Nairobi, o que levou a um raro pedido público de desculpas por parte de um ministro do Governo, num país onde o turismo é uma parte fundamental da economia.
"Esta situação não vai acontecer novamente", asseverou o ministro dos Transportes, Kipchumba Murkomen.
O chefe da Autoridade Aeroportuária do Quénia foi despedido depois de um gerador que servia o principal terminal internacional não ter arrancado.
Pouco antes da meia-noite de sábado, a empresa energética estatal Kenya Power avançou a primeira explicação detalhada sobre a interrupção, atribuindo-a à perda de geração de energia da central eólica do Lago Turkana, o maior parque eólico de África, que causou um desequilíbrio que "desligou todas as outras principais unidades e estações de geração, levando a uma interrupção total da rede".
Contudo, a Lake Turkana Wind Power negou, em comunicado, a responsabilidade, afirmando que foi forçada a desligar-se devido a uma "situação de sobretensão no sistema de rede nacional que, para evitar danos extremos, faz com que a central eólica se desligue automaticamente". Esta instalação respondia, então, por quase 15% da produção nacional.
Segundo a empresa, esta interrupção deveria ser imediatamente compensada por outros geradores de energia do sistema, mas as contínuas interrupções na rede nacional impediram que o parque eólico voltasse a funcionar.
A energética Kenya Power referiu ainda que não pôde sequer importar energia do vizinho Uganda, uma opção relativamente rápida que, por alguma razão, esteve indisponível.
"Estamos a trabalhar em conjunto para restaurar a interligação do Uganda, de modo a melhorar os nossos esforços de recuperação da rede", referiu a empresa.
O Presidente William Ruto, cujo próprio gabinete disse à Associated Press no sábado que ainda funcionava com energia do gerador horas depois de a Kenya Power ter anunciado que tinha restaurado a eletricidade em "áreas críticas" da capital, não comentou esta crise.
"Vergonha de uma nação", foi a manchete principal de um dos principais jornais do Quénia, o Sunday Nation. Segundo a publicação, a interrupção de energia estava a custar milhões de dólares às empresas e a deixar alguns grandes hospitais a funcionar com geradores.
O Quénia obtém quase toda a sua eletricidade a partir de fontes renováveis, um facto que o governo irá promover quando acolher a primeira Cimeira do Clima em África, no início do próximo mês.