Um é crente, o outro não. Com o livro “A Senhora de Maio – todas as perguntas sobre Fátima”, António Marujo e Rui Paulo da Cruz querem proporcionar aos leitores uma reflexão profunda e sem preconceitos, e num “profundo respeito pelas pessoas”.
À Renascença, António Marujo explica que o livro reúne várias entrevistas, testemunhos e também muita documentação histórica, que ajudam a compreender melhor o fenómeno e a história de Fátima: “O nosso objectivo é que este conjunto de entrevistas e depoimentos seja um factor de aprofundamento do fenómeno, para lá de todos os preconceitos e de todas as ideias que cada um possa ter”.
Os testemunhos que recolheram vão em vários sentidos: “Temos aqui desde pessoas que não põem uma vírgula em causa do que aconteceu em Fátima, até pessoas que pura e simplesmente recusam que haja ali uma intervenção de outra ordem que não seja do factor humano”.
“O que nós procurámos foi que, independentemente da posição de partida das pessoas, tivéssemos aqui reflexões de alguma qualidade”, explica o autor. “Queremos que estes depoimentos e estas entrevistas sejam sobretudo uma reflexão profunda sobre o que ali acontece nas suas diversas vertentes, e penso que isso foi conseguido. Até porque depois acrescentamos às entrevistas e aos depoimentos um conjunto de documentação que nos pareceu que ajuda a esclarecer bastante a história de Fátima, a evolução do fenómeno e a sua contextualização. Portanto penso que quem se aproximar deste livro tem aqui um documento muito importante para entender o que foi este primeiro século de Fátima”, diz António Marujo.
Foram 100 anos de grandes transformações históricas, sociais e culturais que Fátima acompanhou. Mudanças visíveis, por exemplo, ao nível dos peregrinos: “O número tem crescido nas últimas décadas, praticamente de forma contínua. Começam a aparecer novos tipos de peregrinos, um peregrino muito mais urbano, que vai a Fátima já não para pagar promessas, mas porque é um lugar onde se pode viver uma espiritualidade, uma experiência de reflexão interior, uma experiência de encontro com os outros e com o sagrado”.
Este era um livro que os dois autores tinham intenção de fazer desde que em 1999 lançaram um documentário televisivo sobre Fátima. Acabaram por só conseguir concluí-lo agora, pelo centenário das aparições.
A obra inclui, por isso, depoimentos mais antigos que já tinham recolhido – por exemplo do cardeal Saraiva Martins, do bispo emérito Januário Torgal Ferreira, da psicanalista Maria Belo, de frei Bento Domingues ou do sociólogo Moisés Espírito Santo, entre muitos outros. A esses juntaram entrevistas mais recentes: “Ao reitor do santuário, padre Carlos Cabecinhas, a D. Carlos Azevedo, por ter sido o primeiro coordenador da publicação da documentação crítica de Fátima, ao antropólogo Alfredo Teixeira, da Universidade Católica. E incluímos também uma entrevista que Robert Schad, o escultor alemão autor da Cruz Alta de Fátima, deu a uma revista de arquitectura estrangeira. Como não havia possibilidade prática de o entrevistamos pedimos-lhe autorização para publicar esse texto”.
“São entrevistas que actualizam o que se passou entretanto, nomeadamente a revelação da terceira parte do segredo de Fátima, ou a renovação urbana de Fátima”, conta António Marujo. Mas as mais antigas “não perderam actualidade, porque são leituras do fenómeno ao longo deste século que agora se completa”.
O livro inclui ainda “depoimentos mais circunstanciados de dois contemporâneos das aparições e da senhora que foi a protagonista da cura que permitiu a beatificação dos pastorinhos. O resto são conversas muito aprofundadas sobre Fátima e como é que um fenómeno destes se pode ler, seja no âmbito da teologia, da psicologia, da espiritualidade, da fenomenologia ou da religiosidade popular. Todos esses campos estão aqui presentes em várias das entrevistas, e também a leitura histórica, a contextualização dos acontecimentos de Fátima na época sociopolítica que o país e o mundo viviam”.
Editado pela Temas e Debates/Círculo de Leitores o livro “A Senhora de Maio – Todas as Perguntas sobre Fátima” tem lançamento marcado para esta quarta-feira, às 18h30, no Jardim de Inverno do teatro São Luís, em Lisboa. Estarão presentes a escritora Lídia Jorge, que assina o prefácio, o antropólogo Alfredo Teixeira e o historiador Fernando Rosas.