O Papa chega esta sexta-feira a Madagáscar, para uma visita considerada “histórica” pelo sacerdote dehoniano Agostinho Clemente Gonçalves, missionário num dos países mais pobres do mundo.
Três décadas depois da passagem de São João Paulo II pela ilha, Francisco vai encontrar uma população que, na sua maioria (75%) vive com menos de dois euros por dia.
“O povo anseia pela paz numa situação, diríamos, de insegurança e violência generalizada. Nota-se um congregar de esforços e uma boa colaboração a vários níveis, entre os diversos setores e forças da Igreja Católica, com as outras igrejas, com o Estado e o Governo malgaxes”, assinala o padre Agostinho Clemente Gonçalves, em declarações à agência Ecclesia.
“Sem dúvida que este congregar de esforços produzirá os seus frutos”, acrescenta.
O religioso fala na “grande expectativa, esperança e entusiasmo” na preparação da viagem pontifícia, que teve como mote “Vem visitar-nos o Papa Francisco, fortalecer o povo de Deus e semear paz e esperança”.
Segundo o missionário português, espera-se que entre 800 mil a um milhão de pessoas participem na Missa presidida pelo Papa este domingo, numa celebração “de fé, solidariedade, juventude e comunhão”.
O padre Agostinho Clemente Gonçalves recorda ainda a beatificação do mártir Lucien Botovasoa (15 de abril de 2018), que foi morto por causa da sua fé, em 1947, na aldeia de Vohipeno.
“Esta visita apostólica do Papa Francisco reveste-se de um significado bastante grande para o povo malgaxe, mas sobretudo para a comunidade católica, depois da beatificação do mártir Lucien Botovasoa, um jovem leigo, casado, professor de escola católica e catequista que derramou seu sangue pela fé que professava, vivia e ensinava, aquando dos acontecimentos sangrentos de 1947”, destaca.
Esta quarta-feira, o bispo da Diocese de Mananjary, em Madagáscar, disse à agência Ecclesia que a visita do Papa Francisco será um “momento histórico” para o país.
“Neste momento histórico da vida social e política de Madagáscar, a visita do Papa é uma bênção para o nosso povo malgaxe e para Igreja em missão”, assinalou D. José Alfredo Caires, missionário que em 2000 foi nomeado bispo, por São João Paulo II.
O Papa polaco tinha sido, até agora, o único pontífice a visitar a ilha do Índico, em 1989.
“Estamos num país muito rico em recursos naturais, mas que vive na pobreza, eu diria na miséria – somos considerados um dos países mais pobres; estamos num pais onde há paz – ou seja não há guerras –, mas reina a corrupção em todos os setores sociais e um banditismo galopante”, denuncia D. José Alfredo Caires, natural da Madeira.
Os portugueses foram os primeiros europeus a chegar ao território, em 1500; em 1896, a ilha tornou-se uma colónia francesa e a independência data de 1960.
Os católicos representam 34,8% da população de Madagáscar, segundo dados divulgados pelo Vaticano; a Igreja Católica tem mais de 6 mil escolas, desde o ensino primário à Universidade, onde estudam quase 700 mil alunos, além de várias outras instituições de ação social.
O Papa chegou hoje pouco depois das 14h00 (hora de Lisboa) ao aeroporto internacional de Antananarivo, onde foi recebido pelo pelo presidente do país, Andry Rajoelina, acompanhado da primeira-dama, para a cerimónia de boas-vindas, sem discursos; o papamóvel seguiu para a Nunciatura Apostólica, que hospeda Francisco até terça-feira, num percurso seguido por milhares de pessoas.
A agenda oficial inicia-se no sábado, às 09h30 locais, com a visita de cortesia ao presidente Rajoelina, católico, no palácio “Iavoloha”; segue-se o encontro com as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático.