Anuncia-se como “a maior exposição até hoje realizada” em torno de Gil Vicente. A mostra “Gil Vicente. Portugal e Espanha nos primórdios do Teatro Europeu”, que abre quinta-feira ao público, no Museu Nacional do Teatro e da Dança, em Lisboa, reúne mais de 450 peças de várias instituições culturais e companhias de teatro de Portugal e Espanha que contam a forma como a dramaturgia vicentina continua viva.
Em entrevista à Renascença, o diretor do museu, Nuno Costa Moura, explica que a “exposição nasceu de uma ideia da Associação Portuguesa de Cenografia” e que foi pensada “em partilha de acervos” entre o museu português e o seu congénere espanhol.
A exposição propõe uma viagem do séc. XVI até aos dias de hoje, revisitando a forma como Gil Vicente foi sento levado a palco nos últimos 150 anos.
Segundo Nuno Costa Moura, a mostra apresenta “uma contextualização histórica da vida e obra de Gil Vicente, para perceber como ele surgiu e outros autores da sua época”, mas a exposição permite também um olhar de como os artistas interpretaram Gil Vicente
É nestas memórias dos espetáculos que o público vai poder ver nesta exposição, por exemplo, peças que pertencem ao espólio da extinta companhia Cornucópia, de Luís Miguel Cintra, que representou por diversas vezes autos de Gil Vicente.
Além de trajes de cena, adereços, figurinos, maquetes de cenários ou fotografias e vídeos das peças, a exposição mostra também alguns “tesouros”, indica o diretor do museu. Exemplos disso são “a compilação de 1562 e a de 1586, uma do Palácio Nacional de Mafra e outra da Biblioteca Nacional, que são pequenos tesouros que não costumam ser mostradas ao publico”.
Há também desenhos de Almada Negreiros para “Auto da Alma”, que o artista apresentou em 1965, bem como outros objetos de cena, cartazes, instrumentos musicais e outros objetos.
"É um conjunto muito grande e variado de lembranças dos palcos”, refere Nuno Costa Moura, que indica que a exposição pode “incutir no público” a vontade de ir ver obras de Gil Vicente.
Segundo o responsável, a obra do dramaturgo continua a revelar uma certa modernidade. Dá como exemplo a mais recente reinterpretação que o encenador Pedro Penim fez de a “Farsa de Inês Pereira”, para o Teatro Nacional D. Maria II.
Patente até 28 de abril do próximo ano, a exposição olha para a obra do pai do teatro português como uma dramaturgia onde temas mantêm atualidade.
“Passados 500 anos, Gil Vicente ainda desperta o interesse coletivo, refletido na diversidade de artistas que têm trabalhado a sua obra - da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro ao Teatro Praga, do Teatro da Cornucópia às revistas à portuguesa de Eugénio Salvador - fazendo dele o dramaturgo mais representado em Portugal”, indica o museu.
A mostra, que ocupa dois pisos do Museu Nacional do Teatro e da Dança e os jardins, reúne peças de museus como o Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, o Museu Nacional de Arqueologia, o Palácio Nacional de Mafra, o Museu Nacional do Azulejo, o Museu Nacional de Arte Contemporânea ou o Museu Nacional da Música.
Há também espólio proveniente dos Teatros Nacionais S. João e D. Maria II, bem como da Compañía Nacional de Teatro Clásico de Espanha.
“Gil Vicente. Portugal e Espanha nos primórdios do Teatro Europeu” é uma exposição bilingue organizada pelo Museu Nacional do Teatro e da Dança, em estreita colaboração com o Museo Nacional del Teatro, de Espanha. Tem como comissários José Camões, da Universidade de Lisboa, e Javier Huerta Calvo, da Universidad Complutense de Madrid.