Apesar da compra do Crédit Suisse pela rival UBS mantem-se um certo nervosismo em torno dos bancos. É conveniente recordar qual é o essencial do negócio bancário e porque ele depende tanto da confiança.
Os bancos recebem depósitos e depois emprestam dinheiro. Pagam um juro pelos depósitos a prazo e recebem um juro, mais alto, dos créditos que concedem. Mais importante do que isso, os bancos criam dinheiro.
Se eu depositar cem euros, o banco irá aplicar em crédito e negócios uma boa parte desse montante. Mas eu continuo a ter cem euros, podendo levantá-los a qualquer momento se o depósito for à ordem e dentro de um algum tempo se o depósito for a prazo.
Claro que se todos ou grande parte dos depositantes, receando perder o dinheiro depositado, fossem levantar o seu dinheiro o banco não conseguiria entregar a cada um o dinheiro dos depósitos e iria à falência. Ou seja, os bancos têm que ter muito cuidado em evitar qualquer alarme suscetível de desencadear uma corrida aos levantamentos.
Agora os depósitos bancários gozam de um seguro; em Portugal e no resto da UE esse seguro abrange depósitos até cem mil euros por depositante. Por isso as corridas aos bancos para levantar depósitos são hoje menos frequentes do que no passado. Na grande depressão dos anos 30 do séc. XX, quando não existiam seguros de depósitos, essas corridas foram catastróficas nos EUA. Mas atualmente elas podem ocorrer, se falhar a confiança na capacidade do banco para pagar aos depositantes que queiram levantar o seu dinheiro.
Por isso a confiança é decisiva para os bancos. No caso do Crédit Suisse ela foi minada nos últimos anos por uma série de escândalos, de prejuízos e de negócios falhados. As regras impostas pelos reguladores – por exemplo, montantes obrigatórios de capital que os bancos devem manter – são também importantes para assegurar a confiança dos clientes. Nesse domínio, os regras seguidas pela banca europeia são mais capazes de gerar confiança do que as regras vigentes, por exemplo, nos bancos americanos.
Quando os bancos falham, é muitas vezes o dinheiro dos contribuintes que vai tapar os buracos. Temos infelizmente essa experiência em Portugal; desde 2008 que o Estado injetou na banca cerca de 22 mil milhões de euros líquidos de dinheiro dos contribuintes. Por outro lado, a confiança nas palavras tranquilizadoras dos políticos e dos supervisores bancários já teve melhores dias, pois essas palavras foram vezes demais desmentidas pelos factos.