O economista João Ferreira do Amaral alerta que sem crescimento económico o desemprego pode voltar a aumentar.
Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre a taxa de desemprego registam, em Março, a maior descida dos últimos oito anos, para menos de 10%, estimando-se que a população desempregada ronde as 504 mil pessoas.
O resultado é positivo, mas mantém-se a dúvida sobre se esta quebra é estrutural e se a taxa de vai manter de modo sustentado abaixo dos dois dígitos. Na perspectiva de João Ferreira do Amaral, "ainda é cedo" para dar uma resposta.
"Estamos em presença de um crescimento bastante forte do emprego, o que significa que a questão da taxa de emprego/desemprego está muito ligada ao crescimento económico e, portanto, tudo depende de saber se o crescimento económico será sustentado ou não. Se for sustentado, teremos uma descida estrutural do desemprego; se não for sustentado, voltaremos a ter desemprego", explica.
A melhoria de muitos dados da economia tem levado à discussão sobre quem é o responsável pelo êxito. O líder do PSD, Passos Coelho, defende que foi o anterior Governo que começou o trabalho. João Ferreira do Amaral diz que a taxa de desemprego está a descer desde 2013, mas foi já com o actual executivo socialista que o emprego disparou: “O crescimento do emprego agora, nos últimos tempos, tem sido muito forte. Está ligado ao crescimento económico e é de atribuir a responsabilidade, basicamente, às políticas deste Governo."
Ferreira do Amaral lembra que "a oposição da direita criticou o Governo por ser demasiado rápido na reposição de rendimentos e por aumentar o salário mínimo", prevendo consequências negativas que não se verificaram. "O crescimento está a ser rápido e, portanto, teria tendência a dizer que está relacionado, em boa parte, com a mudança de política macroeconómica" e também "com o turismo".
Como e quem trabalha hoje em Portugal
De acordo com os dados do INE, apenas metade da população activa está empregada – 52% das pessoas com mais de 15 anos. Um em cada cinco trabalhadores por conta de outrem não tem emprego permanente e, em média, a população empregada tem 44 anos e 11% está em risco de pobreza. Portugal é o sétimo país dos 28 com o risco de pobreza mais elevado entre trabalhadores.
"A precariedade continua a ser um problema grave do nosso emprego, há medidas legislativas para reduzir essa precariedade. Vamos ver se dão resultado", diz Ferreira do Amaral.
Segundo o INE, as mulheres em Portugal recebem quase 15% menos que os homens. O Governo acaba de anunciar uma medida para fiscalizar e punir a desigualdade salarial entre homens e mulheres: uma base de dados, com o registo permanente das remunerações, empresa a empresa, de modo a que sejam aplicados planos correctivos e multas onde forem registados desvios.
Para o economista Luís Cabral, investigador na Universidade de Nova Iorque, hoje já não se pode falar de discriminação salarial por género, porque "hoje em dia, grande parte do 'gap' [fosso] salarial, que ainda existe, entre homens e mulheres não tem tanto a ver com discriminação entre homens e mulheres, mas com pessoas que estão dispostas a oferecer trabalho de uma forma flexível e não flexível. De facto, a procura de flexibilidade é maior entre mulheres do que entre homens e a economia do século XXI é uma economia muito má em relação à flexibilidade, prejudica muito o ‘part-time’, carreiras de ‘part-time’ são muito difíceis de concretizar”.