Hoje é um dia excelente para acabar o namoro e celebrar a seguir. Aconselho vivamente a festa a todos aqueles rapazes e raparigas, sobretudo universitários, que se dizem vítimas de violência já nesta etapa da vida (vide aqueles 54,5% que no estudo, ontem revelado, sobre violência no namoro admitiram já ter recebido algum tipo de agressão do respetivo namorado/a). Num contexto onde quase 30% se reconheceram como “agressores”.
A iniciativa de acabar namoro no dia de S. Valentim deve partir das vítimas. Generosamente, deixem os agressores seguir as respetivas vidas. Ofereçam-lhes o tempo que lhes falta para reflexão.
Eles que pensem como mudar de vida para nunca mais repetirem, com outros, o mesmo erro, podendo partir para outras relações em que o respeito seja a marca de água do princípio ao fim e de preferência para toda a vida. Acabado o namoro, celebrem: não há, não pode haver, uma segunda oportunidade para uma primeira agressão! Dessa já se livraram.
Acreditem que quem controla não ama. Quem grita, não ama, quem bate não ama, quem humilha não ama, quem não confia não ama e quem já faz tudo isso em namoro só poderá fazer agravar as coisas cada dia.
Não há pior engano do que acreditar que se vai conseguir mudar um homem ou mulher violentos, possessivos, ciumentos, mesquinhos, invejosos, marialvas, instáveis, teatrais. Ou, melhor ainda, para não pecarmos por falta de esperança na redenção da humanidade, deixemos humildemente essa magnifica tarefa redentora aos que venham a seguir e nunca tenham sido nem batidos nem humilhados, nem maltratados de qualquer forma. Isso sim, permitirá aos agressores recomeçar com o conta-quilómetros no zero.
O namoro não precisa de peluches, ursinhos, flores e bilhetinhos para ser verdadeiro. Mas há formas fáceis de verificar se é verdadeiro ou falso. Fúrias e gritarias, portas que batem e pratos que voam, pontapés nos móveis e murros nas mesas, beijos e comportamentos sexuais forçados e bofetões inesperados, juras de amor à segunda e traições à terça, euforias no início do mês e ameaças de suicídio no final, altos e baixos, humilhações e desculpas, choradeiras e encontrões, abraços e perdões, fugas e paixões e muitas, sempre demasiadas limitações e imposições. Tudo isto não são, não podem ser, sinais de amor. Acreditem que o melhor é partir para outra e deixar esse tipo de relação enquanto é tempo.
O teste é fácil de fazer e consta de algumas perguntinhas “pirosas” mas básicas, ao estilo dos efeitos secundários das bulas medicamentosas: esta relação aumentou ou reduziu o seu núcleo habitual de amigos/as?
Se sim, perfeito. Se não, alto lá!
Com esta relação sente-se sempre mais serena/o e feliz ou mais controlado/a e stressada/o? O seu companheiro/a aposta no seu sucesso e vibra com ele ou parece ter inveja sempre que brilhe mais, ganhe mais, mande mais, ou seja mais admirada/o pelos outros/as? Aposta no seu sucesso como se fosse dele/a próprio/a? A sua família começa a ser a dele/a? Basta-lhe o seu corpo ou admira a sua cabeça, tenta fazê-la/o feliz ou preocupa-se sobretudo com a felicidade dele/a? Se discordam: alguém está sempre a abdicar, das opiniões, dos amigos, das saídas, da roupa dos gostos, dos passeios? Fá-lo/a crescer ou diminuir? Responda sinceramente e se detetar algum efeito secundário negativo suspenda de imediato a relação e avise todos os amigos/as para que o ajudem a evitar a tentação do recomeço.
Não se “tem” namoro. Vive-se o namoro. Por isso a questão não se extingue em dar e receber, mas em “saber ser” em conjunto.
O namoro é um tempo ideal a não perder, e se S. Valentim não vos tiver reservado a alegria de “um bom começo” que este dia sirva, pelo menos, para vos abrir os olhos e ajudar a pôr fim a uma relação que só pode acabar mal. E se os próprios não se dão conta, que sejam pelo menos os amigos a não fecharem os olhos e a fingir que não estão mesmo a ver onde a violência vai parar.
Para os distraídos fica aqui o número precioso uma espécie de SOS violência no namoro (800202148), acreditem que agir agora face ao crime semipúblico é prevenir, depois, as agressões vão em crescendo e acabam, como já se sabe, vezes demais na morte de um, ou dos dois.
Nisto o jovem cristão tem uma particular responsabilidade para a qual a Comissão Episcopal do Laicado e Família chama a atenção numa inesperada nota sobre o dia de S. Valentim.
Citando Francisco, relembra o texto que o tempo de namoro “é um tempo para aprender a amar alguém” e essa aprendizagem requer “tempo, delicadeza, seriedade, confiança, estima e respeito mútuo”. Pode acontecer com as joias, os perfumes ou as flores, mas o direito a ser respeitado e feliz não deixou, nem pode deixar de estar na moda.