Festival Escritaria dá vida à poesia de Ana Luísa Amaral
17-10-2022 - 12:06
 • Maria João Costa

Depois da morte de Ana Luísa Amaral em agosto, o festival Escritaria decidiu manter o programa do evento dedicado à poetisa. Até dia 23, a cidade de Penafiel volta a ser “contaminada” pela escrita. Arte de rua, exposições, teatro, música e conferências fazem o festival.

Não é a primeira vez que o festival Escritaria acontece sem a presença do autor homenageado. Já tinha sucedido na primeira edição com Urbano Tavares Rodrigues e com Agustina Bessa-Luís, mas por doença. Agora a situação repete-se, mas porque a homenageada morreu a dois meses do evento.

“A circunstância nunca tinha acontecido”, explica o presidente da autarquia de Penafiel. Antonino de Sousa diz, em entrevista à Renascença, que decidiram, no entanto, manter a programação dedicada a Ana Luísa Amaral, que faleceu em agosto.

A décima quarta edição é nas palavras do autarca, devido a esta circunstância, “diferente e mais emotiva”. Depois de no último ano o Escritaria ter sido em torno da obra do escritor cabo-verdiano Germano Almeida, este ano o cartaz apresenta um prisma de visões sobre a escrita de Ana Luísa Amaral.

Até dia 23 o festival “mantém a essência”, explica o autarca que fala do “envolvimento de toda a comunidade, espaços públicos, lojas e recantos da cidade”. Como em outras edições, a poesia de Ana Luísa Amaral estará “sempre presente”, refere Antonino de Sousa que dá como exemplos as ações de arte de rua, as exposições e as montras das lojas da cidade que recebem livros e frases da autora de “What’s in a Name”.

Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, Ana Luísa Amaral foi, além de poetisa, professora na Faculdade de Letras do Porto – cidade onde viveu. Com um doutoramento sobre a poetisa Emily Dickinson, a obra da autora será também alvo de um ciclo de conferências e diversas ações nas escolas do concelho.

Exemplo de uma dessas ações promovida pelo Escritaria visa o público mais novo. A Biblioteca Municipal acolhe uma “Hora do Conto – Histórias de uma menina inteligente, mas muito indisciplinada” que acontece dia 18 às 14h30 e repete nos dias seguintes.

Há depois momentos de “maior solenidade” como descreve o autarca, mais concentrados nos últimos dias do festival. Na sexta-feira, dia 21 será descerrada a frase e inaugurada a silhueta de Ana Luísa Amaral que assim se junta a anteriores homenageados. Será também apresentada a peça “A Tempestade” da autora numa encenação de Vitor Fernandes com o grupo Jangada Teatro.

No fim-de-semana de 22 e 23 decorrem no Museu Municipal, com transmissão em direto on-line, várias conferências. Pelas 16h30 a poetisa Filipa Leal junta-se à escritora Raquel Patriarca e à ensaísta Maria João Cantinho para falarem sobre a obra de Ana Luísa Amaral. A sessão será marcada por leituras de poemas da autora, nas vozes de Isaque Ferreira e Rui Spranger.

À noite, no sábado os poetas Fernando Pinto do Amaral e Luís Filipe Castro Mendes juntam-se para conversar em torno da poesia de Ana Luísa Amaral. No domingo, haverá pelas 15h30 no Museu Municipal uma conferência sobre a “Vida e obra de Ana Luísa Amaral” que vai por à conversa Joana Espain, Marinela Freitas e Teresa Carvalho, com a moderação do jornalista e escritor João Céu e Silva.

Questionado sobre o futuro do festival Escritaria, o autarca afirma que o evento é já “uma marca de Penafiel. Embora em 14 edições, tenha havido apenas três autores de origem africana – Mia Couto, Pepetela e Germano Almeida – Antonino de Sousa acrescenta que o Escritaria é também “cada vez mais” um festival “do mundo da lusofonia”.

O presidente da câmara de Penafiel diz que essa dimensão lusófona “está a ser tratada”, lembrando que na edição em que foi homenageado Germano Almeida esteve presente o ministro da Cultura de Cabo Verde que mostrou vontade de levar o festival além-fronteiras.

“Mais recentemente fomos solicitados por instituições angolanas para podermos partilhar com Angola um pouco o Escritaria”, conta Antonino de Sousa que fala do festival como “uma referência em todo o mundo lusófono”. Nas palavras do autarca esse é de resto “um grande objetivo deste festival”. Quanto à próxima edição diz: “mal termine a edição deste ano, começaremos a tratar da de 2023, porque este trabalho exige planeamento”.

Criado há 14 anos, o festival Escritaria já teve como convidados escritores como José Saramago, António Lobo Antunes, Lídia Jorge, Mário de Carvalho, Mário Cláudio, Pepetela, Manuel Alegre, entre outros.