A diretora executiva da Amnistia Internacional (AI) na Ucrânia, Oksana Pokalchuk, revelou à agência Lusa que as autoridades ucranianas já abriram investigações a mais de 10 mil casos de crimes durante a invasão russa.
De passagem por Lisboa, Pokalchuk mostrou-se preocupada com a real eficácia do sistema judicial ucraniano em lidar com a "enorme quantidade" de violações de direitos humanos por parte das forças russas.
A representante da AI na Ucrânia explicou que, num futuro próximo, as autoridades ucranianas terão de lidar com casos de violações, assassínios extrajudiciais e de torturas, executados por tropas russas em territórios provisoriamente ocupados no leste da Ucrânia.
"Há 10 dias, a Procuradoria-Geral da Ucrânia disse que abriu investigações a mais de 10.000 casos criminais. E isto é apenas o início", denunciou Pokalchuk, dizendo estar convencida que o número de situações de violações de direitos humanos vai aumentar substancialmente, à medida que as forças ucranianas vão libertando territórios que estiveram nas mãos das tropas russas.
A representante da AI acredita nas boas intenções do Tribunal Criminal Internacional e no seu empenho em julgar alegados crimes de guerra cometidos pelas forças comandadas desde Moscovo, mas explicou que essa organização apenas poderá lidar com o topo da hierarquia das tropas russas.
"As investigações devem ser feitas, sobretudo, ao nível intermédio e ao nível mais baixo do exército russo. Foi a esse nível que foram cometidas as maiores atrocidades. E para esses casos terá de ser a justiça ucraniana a atuar", explicou Pokalchuk.
"Desde logo, não há juízes. O número de juízes (nos tribunais ucranianos) não é suficiente", lamentou a representante da Amnistia Internacional, temendo que as investigações aos casos que têm sido detetados possam arrastar-se por cerca de uma década.
"O número de casos é imenso. Pode demorar qualquer coisa como 10 anos a investigar as atrocidades", alegadamente cometidas pelos soldados russos, denunciou Pokalchuk.