O deputado do Bloco de Esquerda (BE) José Manuel Pureza pediu hoje "lucidez e coragem" para implementar a reforma estrutural que é a reestruturação da dívida, defendendo ainda que o Governo abandone a "paralisia em torno da legislação laboral".
No segundo dia do debate do Orçamento do Estado (OE) para 2018, José Manuel Pureza voltou a um tema caro ao BE, considerando que a "dívida portuguesa é não apenas impagável, mas é uma bomba-relógio" e por isso "adiar a escolha da reestruturação para ir pagando uma dívida impagável aos bocadinhos é como tentar neutralizar a bomba envolvendo-a em celofane".
"Há uma outra mudança estrutural que temos que ter a lucidez e a coragem de fazer agora: essa mudança é a que diz respeito à dívida", defendeu.
Para o deputado bloquista, "a dívida não é apenas um risco face a choques externos num futuro mais ou menos breve", mas "uma chantagem instalada e uma força de bloqueio das mudanças estruturais que o país reclama".
"Senhor primeiro-ministro: o BE regista com agrado o seu reiterado compromisso com a recuperação de rendimentos do trabalho, mas para que essa palavra seja honrada este Governo tem que abandonar a sua paralisia em torno da legislação laboral", disse Pureza a Costa.
De acordo com Pureza, é preciso "devolução de rendimentos em toda a economia e isso quer dizer contratação colectiva e tolerância zero para com a precariedade".
"Ou queremos um país que respeita o trabalho ou queremos uma imensa padaria portuguesa", atirou.
Pureza começou a intervenção atirando à direita, considerando que "a única reforma estrutural" que PSD e CDS-PP conhecem "é cortar a direito nos direitos".
"O país pobre exige que as mudanças estruturais vão mais longe. Ir mais longe é desde logo não ficar a meio da ponte em matéria de recuperação de rendimentos", defendeu.
No único pedido de esclarecimento que teve, da bancada do PSD, Rubina Berardo deu, ironicamente, os parabéns ao BE pela introdução no seu léxico do BE da expressão "reformas estruturais".
A deputada social-democrata deixou ainda críticas ao voto favorável do BE, na generalidade, no OE 2018, questionando o que é o que partido faz em relação ao "ataque aos trabalhadores independentes" e ao "espectáculo de magia orçamental que o PS apresenta", do qual os bloquistas acabam por ser cúmplices.
Na resposta, Pureza quis saudar Rubina Berardo "por ter trazido os recibos verdes" ao debate, recordando o "longo histórico do PSD de que não se pode orgulhar" nesta matéria.
"Esta preocupação do PSD interpela-nos muito. Eu queria acreditar que com tanta convicção no combate à precariedade, os senhores deputados [PSD e CDS-PP] tinham feito uma oposição férrea a Passos Coelho e Paulo Portas", ironizou.