A caridade, o matrimónio “dos que se casam no Senhor” e os carismas da virgindade e do celibato são dimensões fundamentais da vida cristã e do Reino de Deus que a Igreja tem a anunciar, defendeu este domingo o cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, na homilia da missa em que foram ordenados cinco diáconos.
“Perder qualquer uma destas dimensões, deixando de assinalar a última seria truncar o Evangelho de Cristo e dilui-lo no que já existe e, depois, não basta. Creio mesmo que deixaria de ser propriamente cristão, pois em Cristo tudo assinala o fim que há-de chegar, o modo de dizer, a finalidade certa das vidas de todos e de cada um”, afirmou D. Manuel Clemente, no que pode ser lido como uma defesa do celibato sacerdotal, numa altura da vida da Igreja em que, a propósito do Sínodo para a Amazónia, se tem debatido a ordenação sacerdotal de homens casados. “Na verdade, só Deus basta e o mundo inteiro sufoca quando não adora”, defendeu o Patriarca de Lisboa.
Na sua homilia deste domingo, o primeiro do Advento, D. Manuel começou por falar da “dupla caraterística” deste tempo litúrgico: preparação para o Natal e para a segunda e definitiva vinda de Cristo. “Advento é mais do que preparar e lembrar a primeira vinda de Cristo, que celebraremos depois no tempo do Natal. É, para já e urgentemente, apressarmos em nós e à nossa volta o encontro definitivo com o Senhor que vem”, disse o Patriarca de Lisboa na missa celebrada no Mosteiro dos Jerónimos.
“O cristão não teme o fim do mundo porque sabe que esse fim acabará unicamente com o que em nós e à nossa volta não seja Cristo. Cristo, na imensidade do seu ser onde toda a terra e todo o céu definitivamente se incluem, onde todo o bem finalmente acontece”, continuou D. Manuel, para quem o grito essencial deste tempo é “Vem Senhor Jesus”.
Mas, acrescentou, “o clamor é pratico, no encontro com os outros em quem o mesmo Cristo se apresenta como quem pede e requer atenção, correspondência e serviço" porque assim se começa a viver "a única realidade definitiva: a caridade que nunca acabará".
Citando a primeira leitura deste domingo, em que Isaías profetiza sobre um monte onde todos vivem em paz, D, Manuel continuou a concretizar como fazer Advento: “Não devemos desejar outra coisa que a reunião em torno do único e universal criador de todos, mudança consequente das armas de guerra em instrumentos de paz, caminho decidido a esta luz. Começar a fazê-lo onde estamos das famílias às comunidades, entre vizinhos e colegas de escola ou trabalho, entre concidadãos e quem, entretanto, chegar é o melhor Advento que podemos ter e desde já concretizar.”
Foi já na segunda da homilia que falou das três dimensões da vida cristã. “Viver como jesus nos ensinou a viver é o que importa agora. Antes de mais na caridade, vivendo com os outros o Advento do senhor que diz ‘sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequeninos foi a mim que o fizeste’. Também no matrimónio dos que se casam no Senhor, compartilhando do seu amor puro, indissolúvel e fecundo na entrega reciproca do casal e da família. E igualmente nos carismas da virgindade e do celibato, como acontecerá convosco caríssimos ordinandos, anunciando de coração inteiro aquele horizonte final em que todos serão como anjos no céu”, elencou, considerando que são “sinais de Advento vivido e testemunhado”.
O Patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa ressalvou que “como aconteceu com Cristo, nada se desvaloriza do que no tempo acontece e que ele viveu também até aos 30 anos em Nazaré da Galileia”. Mas, continuou, “depois inaugurou em si próprio um tempo definitivo, não constituindo uma família mais para ser familiar de todos, tudo referindo absolutamente a Deus pai e convertendo o crescimento humano em filiação divina, o trabalho em caridade e os laços habituais em família de Deus”.
Cristo “abriu-nos o ultimo horizonte em que as coisas boas se tornarão excelentes”, disse D. Manuel para quem a única razão de ser da Igreja é assinalar ao mundo esse novo horizonte que é o Reino de Deus: “Foi assim que na Terra começou há 2000 anos o Advento do reino dos céus, o reino em que caberemos todos na quantidade inteira do que somos e na qualidade infinda que só Deus permite, o Reino que a Igreja há-de assinalar como sua única razão de ser para não cair na insignificância.”