O Papa divulgou esta quinta-feira uma mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, que se celebra em toda a Igreja no próximo dia 1 de setembro.
O tema - "Que jorrem a justiça e a paz" - é inspirado numa frase do profeta Amós e, “diz-nos aquilo que Deus deseja”, escreve o Papa.
“Deus quer que reine a justiça, que é essencial para a nossa vida de filhos, criados à imagem de Deus, como é a água para a nossa sobrevivência física. Esta justiça não se deve esconder demasiado em profundidade, nem desaparecer como a água que evapora antes de poder sustentar-nos, mas deve surgir onde houver necessidade. Deus quer que cada um procure ser justo em todas as situações e sempre se esforce por viver segundo as suas leis, permitindo à vida florescer plenamente.”, aponta.
Francisco recorda que, na sua recente visita ao Canadá, ao encontro das comunidades indígenas, ao ouvir o batimento dos tambores nas margens do Lago de Sant’Ana, na província de Alberta, associou esses ritmos aos batimentos do coração: “o nosso, o das nossas mães e das nossas avós, o pulsar do coração da criação e do coração de Deus”, lamentando que “hoje não estão harmonizados, não batem em uníssono pela justiça e pela paz”.
O Papa lamenta que “a muitos, é impedido beber neste rio caudaloso” e, por isso, é preciso “permanecer ao lado das vítimas da injustiça ambiental e climática, pondo fim a esta guerra insensata contra a criação”.
A Mensagem denuncia “os efeitos desta guerra em muitos rios que estão a secar”, o consumismo voraz “que está a transtornar o ciclo da água do planeta, o uso desenfreado de combustíveis fósseis e a destruição das florestas que cria uma subida das temperaturas e provoca secas graves”. E o Papa não esquece as “indústrias predadoras que estão a esgotar e poluir as nossas fontes de água potável com atividades extremas, como o fragmentação hidráulica para a extração de petróleo e gás e os mega-projetos de extração descontrolada e a engorda acelerada de animais.”
O que podemos fazer? Francisco aponta três vias
“Unamos as mãos e demos passos corajosos, para que a justiça e a paz jorrem em toda a Terra”, é o pedido veemente do Papa nesta mensagem. Como? Francisco aponta três vias essenciais: “Devemos decidir-nos a transformar os nossos corações, os nossos estilos de vida e as políticas públicas que regem a nossa sociedade".
Para Francisco, a conversão do coração passa pela “«conversão ecológica» que São João Paulo II nos exortava a realizar: a renovação do nosso relacionamento com a criação, de modo que já não a consideremos como objeto a explorar, mas, ao contrário, guardemo-la como um sagrado dom do Criador”. E o Santo Padre acrescenta que o respeito ecológico deve ser vivido em quatro vertentes: “para com Deus, para com os nossos semelhantes de hoje e de amanhã, para com toda a natureza e para com nós mesmos”.
Em segundo lugar, há que transformar os nossos estilos de vida. Francisco cita o patriarca ortodoxo Bartolomeu de Constantinopla para nos lembrar que cometemos «pecados ecológicos» que prejudicam o mundo natural e também os nossos irmãos e irmãs. “Com a ajuda da graça de Deus, adotemos estilos de vida com menor desperdício e menos consumos inúteis, sobretudo onde os processos de produção são tóxicos e insustentáveis”, pede o Papa. E esta tão desejada sobriedade de vida implica um uso mais moderado dos recursos, “separando e reciclando o lixo e recorrendo a produtos e serviços – e há tantos à nossa disposição – que sejam ecológica e socialmente responsáveis”.
Por fim, Francisco apela à conversão das políticas públicas que regem as nossas sociedades e moldam a vida dos jovens. “Políticas económicas, que favorecem riquezas escandalosas para poucos e condições degradantes para tantos, decretam o fim da paz e da justiça." Já a pensar na próxima Cimeira COP28, de 30 de novembro a 12 de dezembro deste ano no Dubai, o Papa pede aos líderes mundiais que “oiçam a ciência e comecem uma transição rápida e equitativa para acabar com a era dos combustíveis fósseis”.
À luz dos compromissos do Acordo de Paris tendentes a suspender o risco do aquecimento global, Francisco considera “insensato permitir a exploração e expansão contínua das infraestruturas para os combustíveis fósseis” e deixa um apelo: “Levantemos a voz para deter esta injustiça para com os pobres e os nossos filhos, que sofrerão os impactos piores da mudança climática. Apelo a todas as pessoas de boa vontade para agirem de acordo com estas orientações acerca da sociedade e da natureza”.