José Sá Fernandes foi vereador da Câmara Municipal de Lisboa (pelo BE e pelo PS) durante 16 anos. É desde outubro do ano passado o coordenador do projeto para a Jornada Mundial da Juventude, que vai acontecer já no próximo ano.
Em entrevista à Renascença admite que o aumento da inflação, provocado pela invasão da Rússia à Ucrânia, pode fazer derrapar o custo deste evento, que não sabe ainda precisar. Considera positivo que a JMJ esteja agora com o novo ministério dos Assuntos Parlamentares, já que é um salto na "hierarquia". E fala na boa relação que tem tido com Carlos Moedas na organização.
Pode ler a primeira parte desta entrevista aqui
Sentado num sofá, no salão nobre da sede do Beato (Lisboa), recebe a Renascença. Ainda faltam 16 meses para a semana da Jornada. Mas faltam saber também alguns pormenores.
Estamos a falar de um projeto enorme. Quanto é que isto vai custar?
Este é um legado extraordinário, que tem um valor incalculável. Eu não vou falar no valor do evento, porque acho que compete ao organizador do evento fazê-lo.
O valor do evento e o número de pessoas que vêm ao evento, tem de ser o organizador do evento a dizê-lo, que é a Fundação da Jornada 20-23.
Mas acho que ainda é cedo para, eles próprios, avançarem com números. Acho que os problemas têm de ir sendo resolvidos.
Em relação aos parques, o valor de Lisboa para o parque, é público: são cerca de sete milhões de euros.
Em relação à ponte são cerca de 2 milhões de euros. Para a retirada dos contentores do Parque de Loures, essa é a parte são aproximadamente 7 milhões.
Em relação ao Parque de Loures em si, consoante o que eles (CM Loures) querem, será o valor do parque. Mas para já, o que nós temos de preparar é o terreno para o evento.
É um evento tão grande que ainda é difícil de dar uma estimativa de quanto dinheiro do erário público é que vai ser gasto no evento?
Sim, é difícil, nesta altura, acertarmos alguns valores.
Nem de grosso modo?
Eu não quero avançar com números, porque eu acho que o primeiro número que tem de se dizer, se quisermos ser sérios, é quanto é que vale o legado.
Vale milhões, por ano, até sempre. Esse vale milhões de certeza.
A despesa vai ser menor do que as receitas geradas pela Jornada?
Vamos ter um parque que vai servir mais de 100 mil pessoas para o resto da vida. Está a perguntar-me se o parque em Lisboa fica pago? Com certeza, vai servir milhares de pessoas para o resto da vida.
Mas não é só isto. O evento tem custos. Fornecer a comida, fornecer os ecrãs para as pessoas verem, o som, construir o palco, parar o trânsito, montar os hospitais de campanha. Isto tem custos e grandes. Estamos a falar certamente de milhões de euros.
Isso é sempre compensado pelo resultado final. Para além disso há uma conta que todas as pessoas fazem em qualquer evento , que é a imagem de Portugal. Isso também vale milhões de euros, mas não sou eu que vou fazer essas contas.
Sendo que também há algumas receitas. Por exemplo os peregrinos que vierem vão pagar por essa inscrição. Se há entidade que tem experiência a organizar estas coisas, é a Igreja.
O que eu vou tentar é que estas sejam as melhores jornadas de sempre, porque isso ficávamos todos orgulhosos
Há uma coisa que elas vão ser os melhores de sempre. Vai deixar um legado físico: um parque.E isso vale uns milhões para sempre.
Teme que os custos da jornada sejam maiores por causa da inflação provocada pela guerra?
O que prevemos é que todos os custos vão subir, não? Mas é como lhe disse: o ganho de um parque tem aqueles milhões todos, o ganho do encontro eucoménico, de das pessoas se encontrarem, de as pessoas discurtirem, de os problemas e de as alegrias da juventude serem o tema, isso tudo vale milhões.
Portanto, pode vir a inflação, as Jornadas vão superar isso. Mas é evidente: se houver inflação tudo vai ficar mais caro. Desde o parafuso ao ecrã, tudo vai ficar mais caro.
Tornou-se coordenador há mais de seis meses, como é que tem sido ser a ponte entre o governo, as autarquias e a Igreja?
Eu acho que tem corrido bem, bastante bem. De facto, o Papa Francisco tem este condão, quer católicos quer não-católicos, gostam da figura. E o facto de haver um evento de Juventude, que não é só para os católicos, que o Papa pediu para estarem todos presentes, é uma motivação. Essa motivação de fazer um grande evento é recíproco em Lisboa, em Loures, no governo, nesta equipa pequena que eu coordeno.
Não há razão nenhuma para nos darmos mal, só há razões para nos darmos bem.
Nesta coordenação, quem toma as verdadeiras decisões é a Igreja...
Sim, mesmo naquilo que compete a cada uma das câmaras, a Igreja tem de dar o seu o seu agrado . Por exemplo, o palco, que é a CM Lisboa que tem de fazer esse trabalho, a Igreja tem de dar o seu palpite.
Eu acho que todos ou cada um pode ter as suas ilusões de protagonismo, mas o grande protagonista disto tudo é mesmo é mesmo a Jornada Mundial da Juventude e o Papa Francisco.
Voltando à articulação, como é que tenho tido a trabalhar com Carlos Moedas?
Acho que tem corrido bem. Eu lembro-me que, quando eu tive uma reunião de passagem de pasta a Carlos Moedas, a primeira coisa que falámos foi da Jornada. Aliás o Carlos Moedas disse-me que a primeira coisa que falou com o Fernando Medina quando estava a passar a pasta, foram as Jornadas.
Isto é um compromisso da Câmara. Não é do Fernando Medina ou do Carlos Moedas.
Diria que é indiferente? Ser um ou ser outro?
É indiferente nesse sentido. É a Câmara Municipal de Lisboa que tem que responder um desafio que agarrou, que é a vontade todos.
Do poder local para o poder central: tem tido um especial contacto com o novo ministério. A mudança para o ministério dos Assuntos Parlamentares é positiva?
Eu respondia ao secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministro, agora respondo a uma ministra. Parece que isto subiu de hierarquia.
Embora eu acho que quer o secretário de Estado Tiago Antunes, quer a ministra Catarina Ana Catarina Mendes têm dado o aval àquilo que é preciso.
A resolução do Conselho de Ministros é muito clara naquilo que o grupo de projeto tem de fazer, mas também eles têm sido sensíveis. Há uma alínea que diz que eu posso fazer recomendações ou pedidos a vários membros do governo, para colmatar uma falha ou outra.
E eles têm respondido a esses meus pedidos. Provavelmente outros vão ser precisos à medida que nos vamos aproximando do evento.
Eu acho que essa mudança é simbólica, é um grau acima. Mas eu não distingo as pessoas por serem secretários de Estado ou ministros. Distingo por serem práticas e eficientes. Acho que são os dois eficientes.
A fechar esta entrevista, acho inevitável perguntar-lhe: Está a preparar aquele que será o maior evento de sempre em Portugal. Tem algum receio que alguma coisa corra mal?
Nós devemos ter sempre receio, mas devemos estar preparados para ultrapasasar os obstáculos dos nossos medos.
Na vida, sempre que temos um obstáculo ou um desafio, só estamos verdadeiramente descansados quando o passarmos o obstáculo ou quando o desafio tiver acontecido. Até lá temos os nossos receios. Não sei se receios é a palavra certa, mas ansiedade, nervos, estar nervoso...
Alguma coisa em particular?
No fundo é tudo. Eu quero que corra bem, que seja um grande sucesso. Que, efetivamente, depois existam os parques. Os parques não ficam com o evento, cada Câmara tem depois de lançar um concurso para os parques.
Que as pessoas saiam satisfeitas de cá. Que digam bem do país. Eu gostava muito que o evento fosse do país. Nós temos a sorte, acho eu, há quem me contrarie, de termos este evento em Portugal, que tem uma finalidade eucoménica, que é a juventude. É certo que é uma organização católica, mas é para a juventude toda. E que tem uma personagem absolutamente única e universal no mundo, que é o Papa Francisco. Gostava muito que essa mensagem fosse passada por ser uma figura agregadora. Espero que até lá, nós consigamos, todos juntos, agregar mais. Nos tempos que correm, estou com esperança que isso aconteça em 2023, por aquilo que temos vivido nos últimos anos.
Se há geração que, de repente, apanhou dois anos de pandemia, onde foi quase proibido aos jovens dar um beijo às namoradas, ou vice-versa; se agora temos uma guerra onde vemos jovens e crianças debaixo de escombros e a fugirem da guerra.
Se, em 2023, nem uma coisa nem outra existirem, que seja um grande momento da juventude, de solidariedade, de amizade. Espero que sejam eles os protagonistas, um grande encontro de malta nova. Com as palavras que o Papa tem dito, é um Papa extraordinário.
Se nós formos ali para ao pé da mesquita, podemos falar sobre o Papa Francisco. Isso é uma grande coisa!