Os enfermeiros do Centro Hospitalar Universitário do Algarve estão em greve. É um protesto em defesa da progressão nas carreiras, da contabilização do tempo de serviço e para pedir melhores condições de trabalho.
Ana Filipa é enfermeira no Serviço de Urgência de Portimão e admite que começa a perder a esperança. “É completamente frustrante. Parece que isto não sai do mesmo sítio.”
Com o fim do estado de emergência o trabalho destes profissionais de saúde não parou e continuam a somar horas. “Estamos a falar de 25 horas em dois dias.”
Muitos enfermeiros entregaram as fardas com o fim do estado de emergência, conta Nuno Manjua, da direção regional de Faro do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.
“É preciso dizer que durante o estado de emergência os profissionais de saúde nem se podiam despedir. Assim que terminou, várias dezenas de enfermeiros do Centro Hospitalar do Algarve despediram-se. Isto é revelador das condições de trabalho que não existem.”
Muitos vão para o privado ou para o estrangeiro e contam a quem fica a diferença ao final do mês. “Tenho duas amigas minhas que trabalham na Suíça. Lá recebem 5. 000 euros e se for preciso paga 2. 000 de casa mais todos os outros custos. A questão é que enquanto eu poupo 100 euros elas poupam 1. 000 euros”, refere Ana Filipa.
Assume que ainda não desistiu por gostar daquilo que faz diariamente, mas também já ponderou fazê-lo.
“Já pensei seriamente. Ainda por cima eu tenho dois mestrados, uma especialização e uma pós-graduação, mas recebo igual. Neste momento deveria estar a ganhar mais 200 euros desde 2019”, diz a enfermeira.
Já Nuno Manjua refere que “fica aquela sensação de que os enfermeiros foram apelidados de heróis num momento anterior e agora quando supostamente já precisam menos são descartáveis”.
Segundo o Sindicato, há casos de pagamentos em dívida no trabalho prestado nos centros de vacinação e cerca de uma centena de enfermeiros no Algarve aguarda a progressão em relação ao compromisso assumido. Entretanto, no Hospital de Lagos, 17 enfermeiros progrediram em 2019 e agora vão ser despromovidos ao primeiro escalão para ficarem em igualdade com os colegas. Entretanto, contactado pela Renascença, o Centro Hospitalar Universitário do Algarve não respondeu aos nossos pedidos de esclarecimentos em tempo útil.