Nos primeiros tempos em que frequentou a licenciatura em economia, na Universidade Nova de Lisboa, Miguel Faria e Castro não sabia bem o que queria fazer. “Sentia-me um pouco perdido”, conta o açoriano, que trabalha atualmente na divisão de estudos da Reserva Federal (Fed) de St. Louis, nos Estados Unidos, um dos doze bancos regionais do sistema do banco central americano.
Aos 34 anos, faz investigação nas áreas de política monetária, política orçamental e estabilidade financeira e aconselha o presidente da Reserva Federal de St. Louis nestas matérias. São temas – diz – que “contribuem para um melhor desenho, formulação e implementação de políticas que em princípio conseguem melhorar a qualidade de vida das pessoas”. Uma vertente que o atrai, assume.
Em entrevista ao podcast Bolsa de Futuro, Miguel Faria e Castro conta como, aos poucos, foi percebendo que a investigação o entusiasmava e por isso decidiu doutorar-se nos Estados Unidos.
Desde então, foi cimentando o seu percurso na academia. Entre 2020 e 2022, dedicou-se ao estudo os efeitos da pandemia na economia e na política orçamental e as citações dos seus trabalhos dispararam no meio académico. “Foi uma altura muito stressante, mas também muito, muito entusiasmante, porque aconteciam coisas novas todos os dias.”
A importância do momento certo na economia
Olhando para o seu trabalho, o economista, que é também professor universitário, diz que o mais difícil e, ao mesmo tempo, mais interessante, é “perceber onde estamos em termos de situação económica”. “Por exemplo: Devemos ou não aumentar as taxas de juro? O nosso objetivo é tentar perceber se isso é ou não apropriado no momento, porque sabemos que este tipo de política pode ter efeitos bastante diferentes.”
Miguel Faria e Castro adianta, ainda, que uma das questões mais debatidas atualmente na academia tem a ver com as desigualdades económicas. “Sabemos que a população afroamericana, por exemplo, é mais afetada pelo aumento do desemprego e por variações do rendimento familiar e frequentemente os nossos modelos abstraem-se desse aspeto”, diz, acrescentando que têm trabalhado para “incorporar” este tipo de característica.
Impostos ou sistema de justiça?
Questionado sobre as perspetivas da economia portuguesa, Miguel Faria e Castro admite não estar otimista, e diz que “o sistema de justiça é um dos principais entraves à produtividade do país”. “Há muita gente que se foca nos impostos elevados, e isso possivelmente contribui, mas não será o principal fator”, afirma, acrescentando que, com uma “justiça lenta, não há boa forma de garantir que os contratos são executados”.
“A partir do momento em que os resultados do investimento se tornam imprevisíveis, por causa da justiça, não há muitos incentivos a investir. E se não há investimento tanto em capital físico como em capital humano, não vamos conseguir aumentar a produtividade”, conclui o economista.