Pedro Nuno Santos, o ministro da Infraestruturas, saiu do núcleo duro do Governo, mas não perdeu influência no partido e está a fazer o seu caminho nas estruturas do partido.
O "Pedronunismo" está vivo, de saúde e recomenda-se, embora se mantenha discreto, muito mais discreto desde que Pedro Nuno foi (des)promovido de secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares a ministro das Infraestruturas.
Fontes do PS garantem à Renascença que Pedro Nuno "não está parado”, que até "aproveita as saídas como ministro para depois contactar com as concelhias" e que os apoiantes "estão a crescer nas estruturas".
A espécie de assalto às concelhias e distritais do PS está em curso. Há eleições internas previstas para os primeiros meses de 2020, o Congresso do partido deverá decorrer em maio e as tropas de Pedro Nuno Santos estão a mexer-se para chegar ao topo das estruturas, sobretudo a norte.
Deliberadamente, Pedro Nuno Santos mantém-se discreto, fala muito menos com os jornalistas do que anteriormente, mas continua a ter um papel fundamental de bastidores. Já não é o negociador do Governo com os parceiros de esquerda, mas é garantido à Renascença que o seu "poder interno" no partido "está maior", ficando o aviso: "É um erro achar o contrário."
Este poder estará a estender-se para além do aparelho, já que, segundo relatam algumas fontes socialistas, Pedro Nuno "tem operacionais em quase todos os gabinetes ministeriais".
Marcar terreno nas concelhias e federações do PS, ir com bases sólidas para o congresso de maio e com um olho nas autárquicas de 2021. É, para já, esta a ambição do “pedronunismo”.
O ministro das infraestruturas aposta tudo em Braga, Viseu e Porto, e, claro está, em Aveiro, o distrito de onde é natural, com uma fonte socialista a garantir que nas eleições internas "limpa isso tudo, a brincar". A fonte prevê mesmo que "a norte vai ser uma razia", o que pode indicar uma autêntica disputa norte/sul entre “pedronunistas” e a linha oficial do partido.
Fonte próxima de Pedro Nuno confirma que "há contactos" com as estruturas, mas garante que "não há nada organizado". Esta chegada do “pedronunismo” ao topo das concelhias e das federações é vista, de resto, como "natural", tratando-se da "chegada natural da geração dos quarentas do PS à direção das diferentes estruturas" socialistas.
Pedronunismo Vs Costismo
Tudo isto decorre em modo suave, discreto e, sobretudo, sem causar mais mossa à relação do ministro das Infraestruturas com o primeiro-ministro.
Segundo várias fontes, desde o congresso de 2018 que "as relações esfriaram" entre Pedro Nuno e António Costa. É mesmo referido que "dá para trabalhar", mas que não é a mesma coisa.
Desde que, em fevereiro deste ano, passou de secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares a ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno deixou o núcleo duro da negociação e da decisão política.
No novo Governo manteve-se o cargo, até ganhou também os portos para a sua tutela, mas está lá para o fim da hierarquia governamental.
A situação causa-lhe algum desconforto. Por vezes, deixa cair desabafos sobre já não saber as coisas em primeira mão ou já não estar no centro das decisões. Mas também lhe terá dado mais liberdade para fazer o seu caminho no partido, onde nunca deixou de cultivar a relação próxima com as estruturas.
Aquele que até aí foi um dos benjamins do líder do partido deixou de o ser, a partir do momento em que quis definir a linha ideológica do partido o mais à esquerda possível, perfeitamente alinhada com Bloco de Esquerda e PCP.
Pedro Nuno levantou o congresso da Batalha, em maio de 2018, ao alertar o partido que não iria conseguir uma maioria se deixasse de falar para os trabalhadores com salários mais baixos. “O PS só garantirá uma maioria se não deixar de falar para este povo”, disse o então secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.
De resto, nos dias que antecederam o congresso de maio de 2018, Pedro Nuno entreteve-se com debates ideológicos nos jornais com Augusto Santos Silva, então número dois do governo e representante da linha mais à direita do partido.
No final do congresso, no discurso de encerramento, António Costa deixou o aviso de que não meteu "os papéis para a reforma", ao mesmo tempo que disse que "é muito gratificante ver que se pode olhar para o futuro com enorme tranquilidade e satisfação" porque vê "lá, no futuro, a aproximar-se uma nova geração com um enorme potencial”.
Um futuro ainda longínquo se tivermos em conta que na campanha eleitoral para as legislativas deste ano, em Setúbal, Costa avisou que daqui a quatro anos esperava estar no mesmo lugar a dizer que cumpriu o que prometeu, como que caucionando as intenções de eventuais pretendentes à sucessão.
A somar a tudo isto, Costa não terá esquecido o discurso que Pedro Nuno fez em Aveiro, em maio deste ano, durante a campanha para as eleições europeias. Enquanto o primeiro-ministro estava em Paris a defender uma "frente progressista" com o Presidente francês, o liberal Emmanuel Macron, estava o ministro das Infraestruturas, num comício em Aveiro, a defender uma separação clara entre liberais e socialistas no Parlamento Europeu. As relações entre ambos, obviamente, "esfriaram”.
Quem tem Carneiro, tem tudo?
Com Carlos César a decidir-se pela saída do Parlamento, Costa foi obrigado a fazer xadrez político. Tirou Ana Catarina Mendes da sede do PS, pô-la como líder parlamentar e chamou o eficaz secretário de Estado das Comunidades José Luís Carneiro para esse lugar operacional de topo, o secretário-geral adjunto.
Fontes do PS garantem que foi uma jogada com intenção profunda, já que se trata de um “segurista” que fez a transição para o “costismo”. É uma figura discreta, mas tido como uma autêntica formiga e que, desde que assumiu a função na sede socialista, no Largo do Rato, "bate às portas todas", ou seja, corre o país todo a falar com as estruturas, federações e concelhias. E não há dia em que não tenha agenda pública. Ou na sede do partido ou fora dela. E como recorda uma fonte socialista "foi assim que ganhou Baião", o local onde foi presidente da câmara entre 2005 e 2015. Antes disso, tinha chefe de gabinete do grupo parlamentar do PS entre 2000 e 2002, quando o líder da bancada era Francisco Assis.
No meio do mediático estado-maior socialista, o discreto Carneiro é tido como "uma figura importante", quer dizer ganhou importância a partir do momento em que mudou de funções. "Ninguém dá por ele", mas terá sido escolhido, segundo as mesmas fontes, com o propósito de servir de tampão ao namoro de Pedro Nuno Santos com as estruturas.
Mas há também quem não dê por adquirido que José Luís Carneiro esteja completamente distante de Pedro Nuno Santos, ficando em aberto que influência pode ter o atual secretário-geral adjunto nos resultados das eleições internas, sendo que conhece muito bem o aparelho a norte.
O calendário eleitoral no PS é, para já, indicativo. O congresso nacional deverá realizar-se em finais de maio. Antes, nos primeiros meses do ano, será altura para as eleições nas concelhias, federações e congressos distritais.