O secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou-se esta terça-feira desapontado com a falta de consenso no Conselho de Segurança para prolongar o mecanismo de ajuda humanitária transfronteiriça à Síria, que expirou na segunda-feira, disse o seu porta-voz.
"O secretário-geral pede a todos os membros do Conselho de Segurança que redobrem os seus esforços para apoiar a distribuição contínua de ajuda transfronteiriça para milhões de pessoas em extrema necessidade no noroeste da Síria pelo maior tempo possível", disse Stéphane Dujarric, acrescentando que a ONU já antecipado tal cenário e preposicionou ajuda dentro do país em caso de paralisação.
De acordo com o porta-voz de Guterres, a assistência transfronteiriça da ONU continua a ser "uma verdadeira tábua de salvação para milhões de pessoas no noroeste da Síria", já que as necessidades humanitárias "atingiram o nível mais alto desde o início do conflito, enquanto o impacto dos devastadores sismos de fevereiro ainda é sentido de forma aguda".
O Conselho de Segurança da ONU levou a votação duas resoluções que previam a extensão do mecanismo de ajuda transfronteiriça à Síria, através do qual a assistência humanitária era entregue sem necessidade de consentimento do Governo sírio.
A primeira resolução a ir a votos foi apresentada pelo Brasil e pela Suíça, os co-detentores do dossiê humanitário da Síria, e visava autorizar agências da ONU e parceiros humanitários a continuar a utilizar a passagem de Bab al-Hawa, na fronteira Síria-Turquia, por mais nove meses, até 10 de abril de 2024.
Contudo, o texto foi vetado pela Rússia, autora da segunda resolução que previa a extensão por seis meses, mas que também foi chumbada.
Com a rejeição das duas resoluções, foi encerrada oficialmente esta operação da ONU que foi vital para ajudar 4,1 milhões de pessoas no noroeste sírio.
A autorização dada às Nações Unidas para que os seus comboios humanitários utilizassem a passagem fronteiriça de Bab al-Hawa - mecanismo contestado pelo Governo de Damasco - expirou segunda-feira à noite, pelo que esta via de acesso essencial está já encerrada.
Na segunda-feira, 79 camiões com ajuda humanitária passaram por Bab al-Hawa, fretados pelo Programa Alimentar Mundial e pela Organização Internacional para as Migrações.
Desde os fortes sismos de fevereiro que afetaram todo o sul da Turquia e o norte da Síria, 3.700 camiões passaram por Bab al-Hawa e por outras duas travessias excecionalmente autorizadas, até meados de agosto.
Nos últimos anos, sempre que esta autorização teve que ser renovada, a Rússia fez pressão para encerrar a operação e para que toda a ajuda fosse canalizada de dentro da Síria, ou seja, dependesse do Governo de Bashar al-Assad, um reconhecido aliado de Moscovo.